GGN: Tarcísio tirou as câmeras da PM e o número de mortes por ação policial aumentou 120% em São Paulo

GGN: Tarcísio tirou as câmeras da PM e o número de mortes por ação policial aumentou 120% em São Paulo

Matéria assinada por Patrícia Faerman, no jornal GGN, mostra que mortes por ação violenta da PM saltaram de de 262 para 577 vítimas nos últimos dois anos

O PM que jogou uma pessoa viva da ponte, na noite desta segunda (02), reascendeu o debate sobre o retrocesso da violência policial no governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo. A Polícia Militar de São Paulo matou 120% mais pessoas em 2024 do que há dois anos, e é o segundo ano consecutivo – todo o mandato de Tarcísio – que quebra pequenos avanços registrados em 2022.

Neste ano, diversos episódios da atuação da Polícia Militar de São Paulo, assassinando pessoas, chamaram a atenção da opinião pública. Nesta terça (03), um vídeo de um PM jogando uma pessoa viva de cima de uma ponte, na zona Sul de São Paulo, chocou as redes sociais.

No final do mês de novembro, o estudante de medicina Marco Aurélio, morto com um tiro à queima-roupa por outro PM, e o menino Ryan, de 4 anos, baleado no início do mês em confronto no Morro São Bento, em Santos, também paralisaram o noticiário.

O soldado Felipe, acusado de jogar Marcelo Amaral, 21, de uma ponte em Cidade Ademar, São Paulo, carrega um histórico de episódios violentos em sua atuação como policial militar. Em 2023, Felipe foi investigado por matar Maycon Douglas Valério, 31, após disparar 12 vezes contra o motoqueiro durante uma abordagem na rua do Café, em Diadema. O caso foi arquivado pelo Ministério Público sob a justificativa de legítima defesa, informa o Uol.

De acordo com a versão do policial, Maycon estaria armado com um revólver calibre 38 e teria atirado em sua direção. Felipe respondeu disparando 12 vezes com sua pistola Glock da PM, atingindo o motoqueiro. A vítima foi socorrida ao Hospital Municipal de Diadema, mas não resistiu aos ferimentos e morreu minutos após a entrada.

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) considerou que o policial agiu em legítima defesa e no cumprimento do dever. Em janeiro de 2024, o promotor João Otávio Bernardes Ricupero pediu o arquivamento do caso, prontamente aceito pelo juiz José Pedro Rebello Giannini, da Vara do Júri de Diadema.

Afastamento recente reacende questionamentos

O episódio voltou ao centro das atenções após Felipe e outros 12 policiais serem afastados de suas funções e recolhidos à Corregedoria da PM devido à suspeita de envolvimento no caso de Marcelo Amaral. A investigação aponta que Felipe teria jogado o jovem de uma ponte, ato que gerou forte comoção e reações de indignação.

Em entrevista à TV Globo, Antônio Donizete do Amaral, pai de Marcelo, expressou revolta com a atitude do policial. “A PM está aí para fazer a defesa da população e não para fazer o que fez com meu filho. Ele é trabalhador e nunca se envolveu em nada errado. Está traumatizado”, desabafou.

O dados são referentes somente aos PMs em serviço. Quando se trata de todo o contingente policial, incluindo aqueles fora de horário de trabalho, foram 673 mortos pela PM de São Paulo, de janeiro até o dia 17 de novembro deste ano. Os números chamam a atenção, principalmente, se comparados a 2022: naquele ano, foram 396 mortos por PMs, no total.

Flagrante mostra PM confessando que atirou no homem que jogou da ponte

Ainda no final daquele ano, em campanha política, enquanto candidato ao governo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) criticou duramente a exigência das câmeras nas fardas de policiais.

“Câmera é voto de desconfiança para o policial. Eles correm risco de vida por nós. O mínimo que podemos dar é apreço. Temos que proteger o policial”, disse o Tarcísio, em sabatina, em agosto.

Após eleito, em 2023, o governo Tarcísio decidiu não usar os recursos destinados à compra das câmeras corporais. E, neste ano, contratou 12 mil novos equipamentos que não gravam ininterruptamente, ou seja, o Policial Militar decide quando quer gravar ou não.

“Discursos de autoridades do estado que validam uma polícia mais letal, enfraquecimento dos organismos de controle interno da tropa, fuga da assunção de suas responsabilidades por parte órgãos que deveriam atuar firmemente no controle externo da atividade policial, descaracterização da política de câmeras corporais”, listou como as causas para o retrocesso da PM de São Paulo.

Sobre 2022, o ouvidor destacou que a PM vinha construindo resultados de profissionalização, ainda que pequenos.

“Reflexos que podíamos aferir nos números de mortes decorrentes de intervenção policial ano a ano menores, na adoção de tecnologias que garantiam segurança jurídica para atuação dos policiais, mas também protegiam a população, uma vez que com o uso das COP’s [câmeras operacionais portáteis] nossos policiais se enquadravam mais nos procedimentos operacionais padrão”, disse Claudio Silva.

PM-SP estapeia mulher

Fonte: Jornal GGN – Charge: redes sociais – Infográfico: Reprodução G1