Considerado por militares o “tiro de misericórdia” em Jair Bolsonaro (PL), o depoimento do ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, à Polícia Federal implica diretamente o ex-presidente na elaboração da minuta golpista e na articulação do plano para impedir que Lula voltasse ao Planalto após vencer as eleições em outubro de 2022.
No depoimento de quase oito horas realizado na sexta-feira (1º), Freire Gomes afirmou que foi o próprio Bolsonaro, juntamente com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, quem lhe apresentou duas versões da minuta golpista.
Acampamentos
Logo após as eleições, apoiadores de Jair Bolsonaro começaram a montar estruturas em torno de quartéis-generais por todo o país. Os grupos pediam atuação dos militares para manter o ex-presidente no poder, a despeito do resultado das urnas.
O ex-comandante do Exército,
general Marco Antônio Freire Gomes, disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que não interferiu na manutenção do acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército no Distrito Federal por ordem do ex-presidente
Jair Bolsonaro,
segundo a CNN Brasil.
A mídia recordou que no dia 11 novembro de 2022 Freire Gomes e os então comandantes da Marinha, Almir Garnier, e da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos de Almeida Baptista Junior, tinham assinado uma nota intitulada “Às Instituições e ao Povo Brasileiro”, na qual chamavam os acampamentos bolsonaristas de “manifestações populares”.
Quase dois meses depois, em 29 de dezembro, às vésperas do fim do mandato de Bolsonaro, o general
Gustavo Henrique Dutra — então à frente do Comando Militar do Planalto — determinou o
fim do acampamento em Brasília.
A determinação, no entanto, foi suspensa por Freire Gomes. No mesmo dia, ele ligou para o general e proibiu qualquer interferência no acampamento. Segundo disse à PF, a mando do ex-presidente.
Minuta golpista
Na última sexta-feira (1º) Freire Gomes
prestou depoimento à PF na condição de testemunha.
O testemunho do ex-comandante é um dos pontos sensíveis da
investigação que apresenta mais um elo entre o ex-presidente e a suposta tentativa de golpe de Estado. O general também
confirmou aos investigadores ter presenciado reuniões para discutir termos de minutas golpistas.
A declaração de Freire Gomes coincide com a delação do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que teria dito à PF que o ex-presidente recebeu do então assessor especial da Presidência, Filipe Martins, a primeira versão, que previa a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
Bolsonaro teria enxugado o documento, que em sua segunda versão previa apenas a prisão de Moraes, seu principal desafeto.
Vários integrantes da cúpula militar, ouvidos pela mídia, consideram que a postura colaborativa do ex-comandante é uma espécie de “delação premiada” particular do general. O prêmio seria reparar danos à própria imagem e também da instituição, escreve a mídia.
Com Sputnik Brasil e JB