O uso de ferramentas de monitoramento virtual da empresa israelense Cognyte não se restringe à Abin (Agência Brasileira de Inteligência), alvo da Operação Última Milha, desencadeada pela Polícia Federal em outubro do ano passado, com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal).
As Secretarias de Segurança de ao menos dez estados mantêm contratos com a empresa de tecnologia Cognyte desde 2019, sendo os estados de Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Esses acordos foram firmados sem licitação para o fornecimento de soluções de inteligência, como o FirstMile, e outros serviços tecnológicos.
Para especialistas, a contratação da Cognyte pelas secretarias estaduais de segurança se assemelha ao caso da Abin, que teria usado ilegalmente o software para rastrear desafetos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Rafael Zanatta, diretor da ONG Data Privacy, destacou que essa conduta representa um risco à democracia.
“É um risco à democracia, pois esse serviço neutraliza direitos básicos de associação, de privacidade, e proteção de dados pessoais. É perigoso naturalizar esse monitoramento sem ordem judicial, isso para associações e lideranças políticas e sociais é ruim”, ressaltou Zanatta em entrevista ao Uol.
A Cognyte fornece soluções de inteligência para diversas secretarias de segurança estaduais. No Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão, Alagoas, Paraná, Mato Grosso e Amazonas, foram adquiridos equipamentos e softwares da empresa para monitoramento e localização.
Em São Paulo, o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, foi chamado à Assembleia Legislativa para esclarecer possíveis irregularidades no uso de sistemas de rastreamento. O Legislativo do Espírito Santo também demandou explicações sobre o uso de soluções da Cognyte na segurança pública.
Relação com o governo Bolsonaro
Em 2017, a fabricante do FirstMile integrava o grupo israelense Verint Systems Inc. – que tinha Caio Cruz como seu representante comercial no Brasil. Trata-se do filho do então secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, o general da reserva do Exército Carlos Alberto dos Santos Cruz, que depois integrou o governo Bolsonaro e com ele rompeu.
O filho de Santos Cruz cuidou das vendas da filial brasileira da Verint até fevereiro de 2021, quando a empresa desmembrou seu setor de inteligência para uma nova empresa, a Cognyte Software Ltd. De acordo com seu perfil na rede profissional Linkedin, consultado pela Agência Pública nesta sexta-feira (20), Caio Cruz seguia ligado ao grupo Cognyte no Brasil, atuando no setor de vendas em Brasília.
Em 2017, a primeira compra do governo federal de ferramentas do grupo israelense se deu junto à revendedora oficial da Cognyte no Brasil, então chamada de Suntech S/A.
Sediada em Florianópolis, a Suntech também trocou de nome e hoje se chama Cognyte Brasil S/A. A filial brasileira é creditada como uma das “principais estruturas” da companhia israelense no mundo, conforme declarações do grupo para a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) – à qual presta contas por negociar ações no mercado financeiro.
Com informações da Agência Pública e DCM