Carluxo trocou mensagens com Ramagem pedindo à Abin acesso ilegal a dados sobre inquéritos da PF contra sua família

Carluxo trocou mensagens com Ramagem pedindo à Abin acesso ilegal a dados sobre inquéritos da PF contra sua família

O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), pediu informações sobre inquéritos que corriam na Polícia Federal contra sua família, através de sua assessora Luciana Almeida.

Luciana Almeida fazia os contatos com Alexandre Ramagem, então chefe da Abin, em nome de Carlos Bolsonaro. Foi ela quem enviou para Ramagem o pedido de Carluxo, como é chamado, para ter acesso a dois inquéritos da PF.

O caso é citado pela Polícia Federal no pedido para operações de busca e apreensão contra Carlos Bolsonaro. A conversa foi encontrada no celular de Ramagem;

 

“Bom diaaaa Tudo bem? Estou precisando muito de uma ajuda”, escreveu a assessora parlamentar em outubro de 2022.

Em seguida, enviou:

“Delegada PF. Dra. ISABELA MUNIZ FERREIRA – Delegacia da PF Inquéritos Especiais Inquéritos: 73.630 / 73.637 (Envolvendo PR e 3 filhos) Escrivão: Henry Basílio Moura”.

 

Ramagem respondeu com as informações relativas aos inquéritos.

Para a Polícia Federal, “a solicitação de realização de ‘ajuda’ relacionada à Inquérito Policial Federal em andamento em unidades sensíveis da Polícia Federal indica que o núcleo político”, do qual Carlos Bolsonaro fazia parte, “possivelmente se valia do delegado Alexandre Ramagem para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”.

No caso desses dois inquéritos, a PF verificou que não há nenhuma relação com o ex-presidente Bolsonaro ou com seus filhos. “Entretanto, fontes abertas indicam que no período existiam investigações em andamento no interesse dos sujeitos razão pela qual provavelmente a fonte não obteve os números dos procedimentos corretos”, falou a PF.

As provas colhidas até agora “indicam, de maneira significativa, que a organização criminosa infiltrada na ABIN também se valeu de métodos ilegais para a realização de ações clandestinas direcionadas contra pessoas ideologicamente qualificadas como opositoras” para conseguir vantagem política e “‘fiscalizar’ indevidamente o andamento de investigações em face de aliados políticos”, escreveu o ministro Alexandre de Moraes no despacho que autorizou as operações.

“Assim, a autoridade policial, com base nos elementos de prova acima referenciados e outros mencionados na representação, e após aprofundamento das investigações nas Pets 11.108/DF, 11.840/DF e 12.027/DF, em trâmite nesta SUPREMA CORTE sob minha relatoria, aponta a identificação de organização criminosa, nos moldes do art. 2º da Lei nº 12.850/2013, com intuito de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas, em violação ao art. 10 da Lei 9.296/96 (com redação dada pela Lei nº 13.869/2019), invadindo aparelhos e computadores, além da infraestrutura de telefonia, incidindo no art. 154-A do Código Penal (com redação dada pela Lei 12.737/2012)”, escreve o ministro do Supremo.

“Nesta representação específica, ressalta a autoridade policial a identificação do núcleo político, composto por Carlos Nantes Bolsonaro, Luciana Paula Garcia da Silva Almeida e Priscilla Pereira e Silva, que, em conjunto com ações do Núcleo Alta Gestão-PF, sob o comando de Alexandre Ramagem, monitorou indevidamente ‘inimigos políticos’ e buscou informações acerca da existência de investigações relacionadas aos filhos do então presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, diz Alexandre de Moraes na decisão.

“Os policiais federais destacados, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram das ferramentas e serviços da ABIN para serviços e contrainteligência ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como por exemplo, para tentar fazer prova a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro”, aponta Moraes em seu despacho.

A PF descobriu a existência de quatro “núcleos” da organização criminosa, sendo eles o político, de alta gestão, da gestão ABIN e de consultas. Carlos Bolsonaro, segundo a investigação, integrava o núcleo político.

Os imóveis de Carlos Bolsonaro, assim como seu gabinete na Câmara do Rio, foram alvos das operações de busca e apreensão nesta segunda-feira (29). Seu celular, computadores e pen drives foram apreendidos.

PROCURADORA FOI ESPIONADA

No despacho, Moraes também dá mais detalhes sobre a espionagem do antigo governo contra a procuradora que era responsável pelo investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Além da impressão de um resumo do currículo da procuradora nas instalações da ABIN, o ministro do Supremo falou do uso da ferramenta israelense First Mile para sua localização.

A First Mile é capaz de invadir as redes de telefonia para descobrir a localização de qualquer aparelho de celular. A ABIN de Bolsonaro estava usando essa ferramenta de forma ilegal para saber onde a procuradora estava em tempo real.

 

Bens apreendidos na casa de Carluxo

Casa de Angra dos Reis: um celular e três notebooks;

Casa na Barra da Tijuca, no Rio: um computador, dois celulares antigos, dez pendrives, uma caneta espiã, agenda com anotações diversas;

Comitê do vereador na cidade do Rio: diversos documentos, documentos de empresas, um computador, diversas mídias.

Câmara dos vereadores do Rionove computadores no gabinete; um celular, documentos em geral.

A PF lacrou tudo o que foi apreendido e será enviado para a equipe que conduz as investigações em Brasília.

 

COM OUTRO ALVO

Na operação desta segunda-feira, a PF também apreendeu 10 celulares, três computadores, uma arma e um HD externo na casa de Giancarlo Gomes Rodrigues, um dos alvos da operação.

A operação é desdobramento da Operação Vigilância Aproximada, que vasculhou 21 endereços na última quinta-feira (25).

O First Mile, instrumento israelense de espionagem adquirido pela Abin, tinha capacidade de monitorar até 10 mil pessoas por ano, sem autorização judicial.

ALEXANDRE RAMAGEM

O principal alvo da ofensiva da PF é o ex-diretor da Abin, na gestão Bolsonaro, e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), amigo dos Bolsonaros. A investigação se debruça sobre a denúncia de que a Abin foi usada ilegalmente para atender a interesses políticos e pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro e da família.

ALVOS DA PF

Além de Carlos Bolsonaro, são citados na investigação: Luciana Paula Garcia da Silva Almeida, assessora de Carlos na Câmara de Vereadores do Rio; Priscila Pereira e Silva, assessora de Alexandre Ramagem, na Câmara dos Deputados; e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército cedido a Abin.

Priscila Pereira é esposa de Giancarlo, servidora da agência.

CRIMES INVESTIGADOS PELA PF

De acordo com a corporação, a ofensiva apura possíveis crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

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