Única mulher na Inconfidência, Hipólita Jacinta é inscrita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Única mulher na Inconfidência, Hipólita Jacinta é inscrita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Destemida, intelectual e pioneira, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo (1748-1828) rompeu barreiras e fez história como a única mulher a participar da Inconfidência Mineira, o primeiro grande movimento anticolonial do Brasil. Séculos após sua ousadia em luta pela liberdade e pela independência, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, por meio de uma lei sancionada pelo presidente Lula (PT) e publicada no Diário Oficial da União (DOU) na última sexta-feira (3).

A iniciativa teve origem no Projeto de Lei 2.285/2023, de autoria do deputado federal Jonas Donizette (PSB-SP), com relatoria no Senado do senador Cid Gomes (PSB-CE). A aprovação da lei representa um reconhecimento inédito à atuação de Hipólita Jacinta, cuja trajetória foi essencial para a articulação do movimento e para a luta pela independência do país.

A trajetória de Hipólita Jacinta

Nascida em 1748, na região de Prados, Minas Gerais, Hipólita Jacinta é descrita como uma mulher destemida e intelectual, que ousou ocupar um espaço raro para mulheres de sua época: o da política e da conspiração pela liberdade. Residente em Vila Rica, atual Ouro Preto, Hipólita colocou à disposição do movimento sua residência, na Fazenda Ponta do Morro, que se tornou um ponto estratégico para reuniões e articulações entre os inconfidentes.

Entre suas contribuições mais notáveis, está a autoria de uma carta denunciando Joaquim Silvério dos Reis, o delator do movimento, como traidor. Além disso, foi ela quem escreveu mensagens alertando sobre a prisão de Tiradentes, orientando os líderes do movimento a iniciarem um levante militar. Embora não tenha sido presa como os demais conjurados, Hipólita sofreu duras represálias: todos os seus bens foram confiscados pelo governo colonial.

Uma mulher à frente do seu tempo

Para a historiadora Heloísa Starling, Hipólita foi uma liderança única. “Ela não só participa da conspiração, como ela é uma liderança na medida em que ordena e é obedecida. Então, é uma mulher extraordinária. Completamente transgressora. […] É a mulher que vai para a cena pública e fala com a voz própria sobre a liberdade, sobre a República, sobre a independência. Isso é a transgressão mais difícil para a mulher até hoje”.

Hipólita Jacinta já havia sido homenageada em 2023, quando se tornou a primeira mulher a ter uma lápide no Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto. Entretanto, devido à escassez de documentos históricos, não se sabe onde seus restos mortais estão ou como era sua fisionomia.

Com páginas feitas de aço, livro homenageia personagens que se destacaram na história do país | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Com a inscrição no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, seu nome se junta a figuras como Zumbi dos Palmares, Ulysses Guimarães, Maria Filipa de Oliveira, Dandara dos Palmares, Machado de Assis e Chico Mendes, todos reconhecidos por sua luta pela liberdade e pela democracia no Brasil. O livro, criado em 1992, é composto por páginas de aço e fica guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

O reconhecimento de Hipólita Jacinta simboliza um marco na valorização da participação feminina nos movimentos históricos do Brasil. Sua liderança na Inconfidência Mineira, descrita como essencial para a comunicação e o financiamento do movimento, evidencia a força de uma mulher que desafiou as convenções de sua época para lutar por ideais de liberdade e justiça.