Povo guarani em SP resgata abelhas nativas para manter floresta em pé

Para o povo guarani, sem abelhas nativas não há floresta, e nem futuro. Na Aldeia Tekoa Yvy Porã, uma das sete aldeias da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo (SP), o meliponário tem 140 caixas com 10 espécies de abelhas nativas. Há 10 anos, quando foi iniciado o projeto, sete dessas espécies estavam extintas, segundo o cacique Karai Márcio Verá Mirim.

“Essas abelhas estavam sendo extintas do território. E isso trouxe uma preocupação muito grande pra gente. E através da escuta com os anciões a gente se preocupou com a forma que a gente ia ajudar a natureza a ser o que ela era antes. Então houve comprometimento das lideranças política de realizar um projeto que viabilizasse a reintrodução das abelhas nativas”, explica Márcio Verá Mirim, líder da iniciativa ao programa Bem Viver na TV, uma produção do Brasil de Fato.

Os pequenos seres milenares na cultura guarani desempenham hoje um papel essencial na preservação da biodiversidade. A TI Jaraguá está localizada a 27 quilômetros do centro da cidade de São Paulo. Ali, os indígenas sofrem com a presença de invasores e direitos básicos são historicamente negligenciados, como o acesso a serviços de saúde.

“Trabalhando com o projeto de meliponicultura a gente traz essa força natural que vai manter a nossa mata protegida, fazendo a floresta se reproduzir de uma forma natural, como sempre foi. É uma perspectiva de futuro”, completa o cacique.

Jurandir Jekupe atua na frente de reflorestamento do território e conta que a presença das abelhas nativas pode resgatar a flora primária que foi devastada na região. Segundo ele, a relação entre elas e a mata é uma relação de simbiose. Hoje, as sete espécies produzem nas aldeias guarani o mel, o própolis e a cera utilizados na medicina tradicional e também nos rituais de reza.

“As abelhas precisam dessa variedade de plantas, e as plantas para poder ter essa condição de reprodução, elas precisam exatamente do trabalho das abelhas. Então, uma reforça a outra. A variedade de abelhas, você vai garantir também a variedade de plantas. E tendo mais variedade de plantas, você consegue fazer com que as abelhas, elas estejam mais fortes, os ninhos estejam mais fortes”.

No Brasil, as abelhas nativas sem ferrão são um tesouro constantemente ameaçado pelo desmatamento, pelos agrotóxicos, e também pelas mudanças climáticas. O cacique faz questão de distinguir a apicultura da meliponicultura

“Nós entendemos que essa prática de inserir espécies de outros continentes, de outros lugares, não é muito legal para o nosso bioma né? Então a diferença é que as espécies de abelhas da prática de meliponicultura é uma prática ancestral, ela é uma prática dos povos originários de cada bioma, por isso é importante a gente fortalecer sempre. Porque vem de práticas milenares de conhecimentos milenares do bioma, daquela mata, daquela região”, finaliza Karai Márcio Verá Mirim.

 

BdF

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