Política de Campos Neto no BC faz do Brasil maior pagador de juros da dívida pública entre 24 países

Política de Campos Neto no BC faz do Brasil maior pagador de juros da dívida pública entre 24 países

Um relatório enviado pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) para a Cúpula dos Líderes do G20, que foi aberta nesta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, é mais uma confirmação do estrago causado às contas governamentais e à economia brasileira pela política monetária adotada pelo Banco Central, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto. O documento revela que o Brasil é o país que mais paga juros da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), entre 24 grandes economias pesquisadas pelo conselho.

Conforme noticiado hoje pelo jornal Valor Econômico, a dívida pública do Brasil alcançou 84,7% do PIB em 2023, e os juros pagos sobre essa dívida representaram em torno de 6% do PIB. Custo de dívida pública tem a ver com seu tamanho, capacidade de geração de renda (PIB) e condições macroeconômicas do país, que se refletem nas taxas de juros praticadas no país.

Leia maisEm um ano, capital financeiro captura 7,5% do PIB com juros da dívida pública

Em novembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a subir a taxa básica de juros (Selic), com uma alta de 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, sufocando ainda mais a economia do país.

A discrepância dessa política fica explícita quando se faz uma comparação com a Argentina, país com uma dívida pública que atingia 154,5% do PIB, quase o dobro da do Brasil, e que pagou o equivalente a 2,4% do PIB.

Entre desenvolvidos, o Japão tem dívida pública de 252,3% do PIB, mas pagava de juros o equivalente a 0,12% do PIB. Em maio deste ano, o BC do Japão encerrou a política de juros negativos.

Danos sociais

Conforme o IBGE, o PIB brasileiro no ano passado foi de R$ 10,9 trilhões. Considerando a estimativa do FBS, o custo de juros foi então de R$ 649 bilhões, soma quatro vezes maior que o orçamento anual do Bolsa Família, principal programa do governo Lula voltado ao combate à pobreza e à fome.

O Brasil aparecia em 2022 também como o campeão entre 154 países no pagamento de juros da dívida pública em levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI). O custo dos juros era então equivalente a 8,03% do PIB, na estimativa do Fundo.

Esses dados confirmam que a raiz do desequilíbrio das contas públicas está nos gastos com os juros praticados pelo mercado financeiro, o mesmo que, com o apoio da mídia corporativa, cobra do governo a promoção de cortes em políticas fundamentais para a melhoria das condições de vida da população, enquanto multiplica seus lucros com a especulação.

Reforma do sistema financeiro global

O FSB coordena globalmente o trabalho de reguladores nacionais e organismos internacionais definidores de normas e padrões para o setor financeiro, e tende a se transformar progressivamente numa organização mundial para o setor financeiro.

Leia maisFarra rentista: gasto com juros da dívida dispara e limita investimentos federais

Em carta aos líderes do G20, o presidente do FSB, Klaas Knot, que é presidente do BC da Holanda, pede a implementação ‘contínua, completa, coerente e em tempo útil’ das reformas regulatórias no sistema financeiro.

Ele alerta para as atuais vulnerabilidades do sistema financeiro mundial, ilustradas por episódios recentes de turbulência nos mercados e pela falência de vários bancos e instituições não bancárias nos últimos anos. A turbulência bancária de março de 2023 sublinhou o risco atual de corridas aos bancos e a necessidade de respostas mais rápidas aos fluxo de retirada de depósitos.

A carta é acompanhada pelo Relatório Anual do FSB, que destaca que o peso da dívida pública pode causar preocupações de sustentabilidade em alguns países. Constata que a dívida pública atingiu níveis sem precedentes com a pandemia de covid-19, quando os países procuraram compensar a desaceleração da atividade econômica com mais gastos públicos. Embora a relação entre a dívida e o PIB tenha diminuído ligeiramente desde então, o débito mantém-se em nível elevado.

Para o FSB, as preocupações com os encargos com juros pagos pelos governos tem a ver, em parte, com o risco de políticas fiscais expansionistas contínuas e com o aumento previsto a médio prazo da dívida pública em vários países. Isso cria o potencial de os prémios de risco subirem precipitadamente, provocando um aumento acentuado dos custos da da dívida pública.

DIVIDA PÚBLICA

DIVIDA (% do PIB) —– PAGAMENTO DE JUROS (% do PIB)

BRASIL—- 84,6—– 5,96

MÉXICO— 53,0 —- 5,83

INDIA— 82,7 —- 5,26

AFRICA DO SUL—73,9 —- 4,96

ARGENTINA— 154,5—- 2,39

INDONESIA—39,9 —- 2,10

TURQUIA— 28,8 —– 1,84

CHINA—83,6 —- 0,94

RUSSIA— 19,6—- 0,25

ARABIA SAUDITA—26,2 —- -0,03

DESENVOLVIDOS

ITALIA—137,2—- 3,61

ESTADOS UNIDOS— 122,1—- 3,01

REINO UNIDO— 101,0—- 2,46

ESPANHA—107,4—-1,87

FRANÇA— 110,6—- 1,68

AUSTRALIA— 49,3—- 1,15

ALEMANHA—- 64,2—– 0,69

HOLANDA—- 47,1—– 0,58

CANADÁ—- 107,1—- 0,50

JAPÃO—252,3—- 0,12

SUÍÇA—- 38,3—- 0,11

HONG KONG— 6,4—- -2,34

COREIA—- 55,1— -0,15

CINGAPURA—-162,1

FONTE: Relatório do FSB para o G20/BIS, FMI, JP Morgan, cálculos do FSB, com informações do Valor Econômico