O áudio encontrado em um aparelho de Alexandre Ramagem, ex-diretor da ABIN, que registra Bolsonaro, General Heleno e uma advogada de Flávio Bolsonaro discutindo estratégias de defesa do senador e filho de Bolsonaro, caiu como uma bomba na extrema-direita e Jair Bolsonaro o está “muito irritado” com o fato de Ramagem, atualmente pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, não ter apagado o conteúdo em seu celular, mesmo com a Abin sob suspeita.
“O senador Flávio Bolsonaro tem atuado para colocar panos quentes na situação, mas a relação de seu pai com o pupilo político Alexandre Ramagem azedou. Na campanha, a leitura é que o conteúdo do áudio terá o poder de ditar os rumos do pleito, inclusive a permanência de Ramagem na corrida eleitoral. É consenso que hoje o único ativo que o deputado tem é ser um homem de confiança de Bolsonaro e que, se isso acabar, mantê-lo na disputa pela prefeitura do Rio será insustentável.”, revela Malu Gaspar, em sua coluna no jornal O Globo.
Ramagem saiu da Abin em março de 2022, no prazo final para conseguir se candidatar a deputado federal. Foi eleito pelo PL, partido de Bolsonaro. Agora, é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e um dos principais nomes do bolsonarismo. De acordo com a coluna, aliados de Bolsonaro estão muito preocupados com as últimas notícias envolvendo o nome do homem que irá disputar uma das prefeituras mais importantes do Brasil.
Espionagem para o clã Bolsonaro
De acordo com o relatório da Polícia Federal, a ABIN foi utilizada de maneira indevida para beneficiar um núcleo político específico. O inquérito identificou três núcleos principais operando dentro desta estrutura paralela: o Núcleo de Estrutura Paralela, o Núcleo de Propagação e o Núcleo de Presidência. Cada um desses núcleos desempenhava papéis distintos mas coordenados, com o objetivo de promover ações contra a democracia e garantir a continuidade de determinados interesses políticos.
O relatório da Polícia Federal inclui provas substanciais, como gravações de áudio e vídeo, documentos internos e depoimentos de testemunhas. Um funcionário da ABIN relatou movimentos suspeitos nas instalações da agência, corroborando a existência de atividades clandestinas. Os depoimentos também mencionaram informações confidenciais que indicavam um plano estruturado para ações antidemocráticas.
Caso Marielle
Uma das partes mais preocupantes do inquérito é a ligação entre a estrutura paralela da ABIN e a investigação do homicídio da vereadora Marielle Franco. As diligências policiais identificaram ações clandestinas realizadas pela estrutura paralela, que incluíam a confecção de dossiês de informações sobre o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Daniel Freitas da Rosa, sob ordens do então Diretor Geral da ABIN, Giancarlo. Esses materiais preliminares foram compartilhados, especialmente os “relatórios de inteligência”, que continham referências expressas aos investigados.
Além disso, um resumo das denúncias relacionadas ao caso Marielle foi apresentado. De acordo com o documento, um total de 292 denúncias foram registradas, sendo 72 no ano de 2019. Dentre essas denúncias, não há qualquer informação ligando a família Bolsonaro ao caso. No entanto, há nove denúncias específicas mencionando “Brazão” e 192 denúncias que apontam milicianos como autores do crime. Na semana do homicídio, foram recebidas 52 denúncias relacionadas ao caso Marielle. Segundo a investigação da PF, o documento com o monitoramento foi impresso pelo próprio Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.
Com base nas informações fornecidas, parece haver evidências de que a estrutura paralela da ABIN, que funcionou durante a gestão do governo Jair Bolsonaro, tinha uma preocupação especial para menções envolvendo membros da família Bolsonaro no caso do assassinato de Marielle Franco. Além disso, a confecção de dossiês e relatórios de inteligência sobre autoridades como procuradores, delegados e promotores ligados ao caso levanta questões sérias sobre possíveis interferências e monitoramento indevido de agentes públicos envolvidos na investigação.