Pesquisa Quaest mostra Lula com 51% de aprovação, mas eleitor reclama do aumento dos preços da cesta básica

Pesquisa Quaest mostra Lula com 51% de aprovação, mas eleitor reclama do aumento dos preços da cesta básica

Levantamento mostra que evangélicos e classe média estão mais críticos em relação a benefícios do governo

Marcus Vinícius de Faria Felipe

Pesquisa do Instituto Quaest divulgada nesta quarta-feira (6) revela que 51% dos brasileiros aprovam o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 46% desaprovam. O levantamento mostra uma queda na aprovação, que era de 54% em janeiro e uma alta na reprovação, que era de 43%. Uma das explicações para isto é a percepção dos entrevistados de que neste início de ano houve um aumento maior nos preços da cesta básica e de alguns serviços, como planos de saúde, educação.

O levantamento, realizado entre os dias 25 e 27 de fevereiro, ouviu 2 mil pessoas em 120 municípios e foi encomendado pela Genial Investimentos, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

51% aprovam o trabalho do presidente Lula. (Foto: Reprodução infográfico Quaest
Entre os evangélicos, o índice de desaprovação do presidente é de 62%, enquanto 35% aprovam seu trabalho. O número coincide com as falas do presidente Lula condenando o Estado de Israel pelo massacre de crianças e mulheres em Gaza. Entre os católicos e de outras religiões a queda foi menor, mas mesmo entre apoiadores do presidente houve críticas ao posicionamento do presidente. Felipe Martins, coordenador da pesquisa Quaest é enfático: “Para entender o tamanho do estrago, entre quem acha que Lula exagerou na comparação (60% da população), 60% desaprovam o governo. Entre quem acredita que não houve exagero por parte do presidente (28% da população), 78% aprovam seu governo.”

A pesquisa também mostrou que a aprovação é maior entre os que ganham menos: 61% dos entrevistados que recebem até dois salários mínimos aprovam o trabalho de Lula, enquanto 36% desaprovam. Entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, 54% desaprovam, enquanto 44% aprovam.

Governo aprovado

Em relação à avaliação geral do governo Lula, 35% a avaliam de forma positiva, 34% de forma negativa e 28% como regular. A avaliação positiva oscilou 1 ponto percentual para baixo em comparação com a pesquisa anterior, enquanto a negativa cresceu 5 pontos percentuais.

Comparando os governos de Lula e Bolsonaro, 47% dos entrevistados consideram o governo Lula melhor, 38% pior e 11% igual.

 

Preocupação com os mais pobres

Os entrevistados pela Quaest percebem que o governo do presidente Lula tem preocupação sincera com a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. Esta percepção é maior entre os  nordestinos (67%), os que ganham até 2 salários mínimos (59%) e católicos (56%). Entre os evangélicos o índice é menor,(36%). Lula é melhor avaliado pelas mulheres (52%) em relação aos homens (48%). Pretos (57%) e pardos (51%), estão mais satisfeitos com o governo Lula do que os brancos (44%).  No Centro-Oeste e Norte do país 46% concordam com a expressão de que “o governo Lula se preocupa com as pessoas e com você”, no Sudeste esta avaliação cai para 44% e no Sul, para 36%.

 

Inflação

É na questão da inflação que há uma preocupação maior dos brasileiros. Segundo o diretor da Quaest, Felipe Martins, “embora seja um indicador sazonal, que depende de fatores climáticos exógenos ao governo, chama atenção que 73% dos brasileiros afirmam que viram os preços de alimentos crescerem no último mês. O IPCA de alimentos de fato acelerou nos últimos meses. De fato o fenômeno ” El Niño” produziu quebra nas safras de arroz no Rio Grande do Sul e de soja e milho em outros estados do agronegócio. E também é fato que neste início de ano os brasileiros são mais impactados com despesas como matrícula e mensalidade das crianças, IPTU, IPVA entre outros gastos que impactam o primeiro semestre.

Os números da Quaest tem semelhança com o levantamento do Ipespe (antigo Ibope) feito para a Febraban (Federação dos Bancos do Brasil), realizado no mesmo período, onde 67% dos entrevistados reclamaram da alta dos preços. Na Quaest, 63% apontaram o aumento nas contas, 73% o preço dos alimentos e 51%, combustíveis.

O estudo feito pelo Ipespe mostra que a maior preocupação dos entrevistados (72%), em relação à inflação dos preços da cesta básica; 30%, sobre o preço dos combustíveis, 30%, com o pagamento de planos de saúde e remédios, 12% com juros do cartão e financiamentos, 10% com o pagamento de faculdades e 8% com o pagamento das tarifas de transporte.

Pobres mais satisfeitos, classe média mais crítica

Este é um dado que deve ser levado em conta pela equipe econômica e de comunicação do governo federal, uma vez que nos últimos 14 meses, foi feito um esforço do presidente Lula para retomar programas que impactam positivamente na população como a desdolarização do preço dos combustíveis, a volta da farmácia popular, bolsa de estudos para alunos do ensino médio (Programa Pé-de-Meia), entre outros. No caso dos principais alimentos da cesta básica como arroz, feijão, carnes, legumes, ovos e leite, há realmente questões da sazonalidade climática, mas é preciso que o governo cumpra a promessa de retomar a política de estoques reguladores na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), e, em relação aos combustíveis, acelerar a queda do valor nas bombas, que tem sido tímida, embora os preços estejam abaixo do valor que era praticado no governo anterior.

Israel, massacre palestino, classe média, golpe, fake news e evangélicos

É preciso fazer algumas considerações sobre a pesquisa. O levantamento, feito entre 25 a 27 de fevereiro, colheu opiniões no período de maior impacto das declarações do presidente Lula sobre Israel (19/02), porém,  na sequência desta fala, Israel produziu mais fatos negativos, como o “Massacre da Farinha, ocorrido no dia 29/2, onde cerca de 112 pessoas famintas foram metralhadas por soldados do exército israelenses quando se aproximaram do caminhão de alimentos, doados por vários países para abastecer Gaza. O próprio instituto Quaest, divulgou pesquisa na sexta-feira (1º), que o apoio dos brasileiros a Israel caiu de 52% para 39% – índice semelhante àqueles que apoiam Jair Bolsonaro (PL). Ou seja, a pesquisa dos dias 25/27 não registrou o contra-fluxo da opinião pública em relação a Israel no levantamento do dia 29/02.

De todo modo, a pesquisa Quaest mostra que o governo Lula, que está bem avaliado na sua base política (Nordeste, mais pobres, mulheres, pretos, pardos, católicos) precisa melhorar a comunicação com a classe média, mais ricos e o segmento evangélico. Talvez  na avaliação deste grupo, o governo petista ainda não avançou o suficiente para beneficiá-los, ou ainda não perceberam que as políticas de Lula causaram melhorias na suas vidas.

Existe um tempo para maturação das políticas públicas. Somente no início deste ano foram anunciados R$ 64 bilhões em investimentos das principais indústrias automobilísticas instaladas no Brasil como GM, Volks, Toyota, Renaut, Byd, Hyundai, entre outras. A cada semana o presidente Lula lança um programa de redistribuição de renda, a exemplo do já citado Programa Pé-de-Meia, e outros como o financiamento de 100% do Fies para estudantes de famílias do CadÚnico.  Os números da Quast talvez revelem que há uma ansiedade muito grande em relação ao governo atual, dadas as fortes promessas do presidente Lula de que retornou ao governo para cuidar dos brasileiros. De outro lado há uma oposição que ainda mantém forte presença nas redes sociais, desconstruindo, através das fakes news, tudo aquilo que emana do governo federal.

O senador Alfredo Nasser (PSP), que está imortalizado em busto em frente ao prédio da antiga sede da Assembleia Legislativa, na Alameda dos Buritis, no Centro de Goiânia, dizia que “a oposição é quem faz o governo andar para frente”. Esta frase é válida e atual, quando se trata de disputas políticas dentro das quatro linhas, o governo Lula, no entanto, convive com uma oposição que tentou um golpe de Estado, e ainda explícitos ou velados no setor militar e empresarial.

São muitos os desafios na Fazenda e na Comunicação. Não dá para comemorar as vitórias diárias, pois a cada dia é uma nova batalha.