Pesquisa: Eleitores de Vanderlan, Matheus Ribeiro e Rogério Cruz votaram em Fred, votos do PT elegeram Mabel

Pesquisa: Eleitores de Vanderlan, Matheus Ribeiro e Rogério Cruz votaram em Fred, votos do PT elegeram Mabel

Diretor do Instituto Grupom, Mário Rodrigues Neto analisou o voto no segundo turno em cada urna e zona eleitoral de Goiânia, e a conclusão é de que apesar o apoio de candidatos à direita para o prefeito Sandro Mabel, os eleitores do senador Vanderlan Cardoso (PSD), do jornalista Matheus Ribeiro (PSDB) e do ex-prefeito Rogério Cruz (SD) optaram por votar no deputado cassado Fred Rodrigues (PL). O outro lado, os eleitores de partidos progressistas como PT, UP, PC do B, PSOL, PV, Rede votaram majoritariamente em Mabel.

Confira a análise:

 

Como votou o eleitor goianiense no segundo turno das eleições de 2024?

Mário Neto*

O Superior Tribunal Eleitoral (TSE) disponibiliza informações sobre a eleição no detalhe de urna. Estas informações podem, e deveriam, ser estudadas por todos aqueles que se interessam pelo processo eleitoral, especialmente para entender o comportamento dos eleitores numa eleição repleta de ineditismos como foi a eleição de 2024 na cidade de Goiânia.

Qual foi o grande ineditismo desta eleição municipal? Alguns aspectos podem ser apontados, mas o fato de termos 3 candidatos viáveis ao final do primeiro turno torna a eleição de 2024 ímpar. Este resultado foi uma surpresa, inclusive para muitos que acompanham o processo eleitoral – para quem estava em Marte e não em Goiânia: um segundo turno com Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (UB) sem a presença de Adriana Accorsi (PT) era um cenário possível, mas pouco provável se consideradas as pesquisas de opinião publicadas até a véspera da eleição.

O ineditismo da configuração do segundo turno levanta algumas questões: Mabel foi o mais votado no segundo turno, mas qual a origem de seus votos? Fred não venceu a eleição, mas ele cresceu ou diminuiu do primeiro para o segundo turno? Como votaram aqueles eleitores cujos candidatos não seguiram para o segundo turno?

De antemão, cabe dizer que responder essa pergunta com exatidão não é possível, pois os dados disponibilizados pelo TSE no boletim de urna não são individualizados, ou seja, não se sabe como cada eleitor votou individualmente no primeiro e segundo turno, uma vez que o voto é secreto e inviolável. A única informação disponível é a quantidade de votos que cada candidato recebeu em cada seção eleitoral (urna). Assim, é necessário algumas simplificações e hipóteses para buscar entender como aconteceu a votação do segundo turno em relação ao primeiro.

A hipótese inicial é que quem votou em Sandro Mabel e em Fred Rodrigues no primeiro turno repetiu o voto no segundo turno. Assumindo isso como verdade, temos que Sandro Mabel cresceu 163.240 votos do primeiro para o segundo turno, ou seja, 46,2% dos votos de Mabel no segundo turno foram de eleitores “novos”.

Por outro lado, Fred Rodrigues cresceu 68.801 votos do primeiro para o segundo turno, ou seja, 24,3% dos votos de Fred no segundo turno foram de eleitores “novos”. O que são estes eleitores “novos”?

Se a hipótese inicial é verdadeira e o eleitorado é constante (a quantidade de eleitores não variou significativamente entre o primeiro e o segundo turno), então os eleitores “novos” são eleitores que no primeiro turno votaram em outro candidato que não Sandro Mabel e Fred Rodrigues. Assim, cabe investigar o comportamento destes eleitores “novos”.

Para tal, é preciso recordar um pouco sobre o arranjo político do primeiro para o segundo turno.

Sandro Mabel recebeu apoio direto de Vanderlan Cardoso (PSD)[1] e indireto das coligações e políticos ligados à Rogério Cruz (Solidariedade)[2] e Matheus Ribeiro (PSDB)[3].

Já Adriana Accorsi (PT) e Professor Pantaleão (UP) não declararam apoio a nenhum candidato no segundo turno[4]. Fred Rodrigues, consequentemente, não recebeu apoio de nenhum dos candidatos que concorreram no primeiro turno.

Também temos que recordar o embate ideológico importado do cenário federal que também se fez presente nesta eleição municipal, especificamente o antagonismo de direita e esquerda representado pelo PL e PT. Assim, recordando o arranjo político e a questão ideológica, podemos ter como hipótese que quem votou em Adriana Accorsi ou em Professor Pantaleão no primeiro turno não votou em Fred Rodrigues no segundo turno. Por outro lado, quem votou em Vanderlan, Rogério ou Matheus no primeiro turno, pode ter votado tanto em Mabel quanto em Fred no segundo turno. Desta forma, os eleitores “novos” estão caracterizados e pode-se buscar entender como esses eleitores votaram no segundo turno.

Sandro Mabel cresceu em todas as seções eleitorais da capital, sendo que o menor crescimento registrado foi de 7 votos em seção localizada no Colégio Estadual Jornalista Luiz Gonzaga Contart no Jardim Guanabara II e o maior crescimento foi de 114 votos em seção localizada na Escola Estadual Dom Fernando I no Jardim Dom Fernando I. Devido às condições políticas do segundo turno, sua ampla rede de apoio e a condição de não voto esperada pelos eleitores de Adriana e Pantaleão, os votos de Mabel podem ter se originado de qualquer fonte. O mesmo não acontece com os votos “novos” que Fred Rodrigues recebeu no segundo turno, pois este candidato não contou com as mesmas condições favoráveis que seu adversário.

Fred Rodrigues teve uma votação menor no segundo turno em relação ao primeiro em 41 seções eleitorais, ou 1,4% do total de seções. A mesma votação do primeiro turno no segundo em 14 seções, ou 0,5% do total de seções. E uma votação maior no segundo turno que no primeiro em 2911 seções, ou 98,1% das seções eleitorais.

Retomando duas das hipóteses formuladas: quem votou em Mabel e Fred no primeiro turno repetiu seu voto no segundo turno; e quem votou em Adriana e Professor Pantaleão no primeiro turno não votou em Fred no segundo turno tem-se os primeiros elementos de análise, pois se Fred cresceu em 98,1% das seções eleitorais no segundo turno este crescimento deve ter ocorrido sobre os votos de Vanderlan, Rogério e Matheus no primeiro turno, o que é confirmado pelos dados.

Tomando as hipóteses como verdadeiras, Fred cresceu em número de votos sobre os eleitores de Vanderlan, Rogério e Matheus em 2820 das seções eleitorais, ou 96,9% das seções nas quais Fred cresceu em número de votos. Por outro lado, é possível verificar que em 112 seções, ou 3,8% das seções nas quais Fred cresceu, o número de votos “novos” obtidos é maior que a quantidade de votos que Vanderlan, Rogério e Matheus obtiveram nessas seções. Ou seja, o crescimento de Fred não pode ser justificado apenas com os votos oriundos de candidatos de “centro direita” e é necessário somar votos que no primeiro turno ou foram dados a Mabel ou foram dados a Adriana ou Pantaleão.

Da análise pode-se concluir que o grande apoio recebido por Mabel no segundo turno foi suficiente para levá-lo ao paço municipal, mas não foi uma unanimidade entre os eleitores cujo perfil tendem à centro direita.

Entre os eleitores deste perfil (centro-direita), 64.068 indicaram seu voto para Fred no segundo turno, o equivalente a 56,4% do eleitorado de centro de direita, apesar do apoio de seus candidatos a Mabel.

Ainda sobre os eleitores de Mabel, calcula-se que dos 163.240 a mais que ele recebeu no segundo turno em relação ao primeiro, 99.172 são votos de eleitores que votaram em Adriana ou Pantaleão no primeiro turno, ou 60,8% dos votos “novos” recebidos por Mabel.

A análise dos dados do TSE permitiu estimar o perfil dos eleitores e a quantidade de votos “novos” recebidos por Mabel e Fred no segundo turno. Fica evidente que o crescimento de Fred entre os eleitores de perfil mais à direita foi superior àquele obtido por Mabel e que a migração de votos de eleitores de perfil mais à esquerda foi fundamental para garantir a vitória de Mabel nesta eleição.

Fred, seu projeto e seu partido, foi indicado como representante da direita (aqui num espectro mais amplo), segundo a análise dos dados, e finalizou o processo eleitoral maior que qualquer previsão inicial poderia apontar. Este resultado possibilita inferir que as próximas eleições poderão trazer surpresas, especialmente se o entendimento do eleitor em relação aos projetos que melhor o representam se mantiver.

 

Mario Rodrigues Neto é diretor do Grupom Pesquisa

 

[1] Para o segundo turno Vanderlan Cardoso (PSD) declara apoio a Mabel

https://g1.globo.com/go/goias/eleicoes/2024/noticia/2024/10/11/acompanhado-de-lideres-evangelicos-vanderlan-cardoso-anuncia-apoio-a-mabel-no-2o-turno.ghtml (acessado em 17/11/2024) e https://www.jornalopcao.com.br/politica/junto-com-caiado-e-liderancas-do-psd-vanderlan-cardoso-declara-apoio-a-sandro-mabel-646469/ (acessado em 17/11/2024)

[2] Para o segundo turno Rogério Cruz (Solidariedade) manteve-se isento em relação ao segundo turno das eleições de Goiânia, mas pessoas próximas a ele declararam apoio a Mabel.

https://diariodegoias.com.br/vice-de-rogerio-cruz-declara-apoio-a-sandro-mabel-para-segundo-turno-em-goiania/459996/ (acessado em 17/11/2024)

[3] Matheus Ribeiro (PSDB) decidiu não apoiar nenhum candidato à Prefeitura de Goiânia no 2º turno, entretanto alguns integrantes do partido declararam apoio a Mabel. https://g1.globo.com/go/goias/eleicoes/2024/noticia/2024/10/16/matheus-ribeiro-decide-nao-apoiar-nenhum-candidato-a-prefeitura-de-goiania-no-2o-turno.ghtml (acessado em 17/11/2024)

https://www.jornalopcao.com.br/eleicoes-2024/aava-declara-apoio-a-mabel-no-segundo-turno-precisamos-barrar-o-derretimento-de-goiania-647137/ (acessado em 17/11/2024)

[4] Adriana Accorsi (PT) e Professor Pantaleão (UP) afirmaram que não apoiariam nenhum candidato no 2º turno, mas vice de Adriana, Professor Jerônimo (PSB) declarou apoio a Mabel.

https://g1.globo.com/go/goias/eleicoes/2024/noticia/2024/10/11/adriana-accorsi-diz-que-nao-ira-apoiar-nenhum-candidato-no-2o-turno-mas-vice-declara-apoio-a-mabel.ghtml (acessado em 17/11/2024)