Pedro Bala, mitológico goleiro do Atlético, completa 80 anos no dia 12/06

Autor de defesa antológica no título do Goianão de 1970 e verdadeira muralha no Torneio Integração Nacional em 1971, ex-atleta vive vida simples no interior de Goiás

Marcus Vinícius de Faria Felipe

Menino pobre nascido no dia 12 de junho de 1942, em Divinópolis (MG), Pedro Manoel dos Santos enfrentou obstáculos desde muito cedo. Perdeu a mãe ainda na primeira infância, e o pai na adolescência. Estudar e trabalhar era um desafio, mas ele conseguiu com muito esforço se manter nos dois. E foi na escola, brincando com os colegas, que descobriu o futebol. Primeiro jogou na linha, mas com sua estatura avantajada para época foi cada vez mais sendo escalado para o gol. Pegou gosto.

O Guarani de Divinópolis foi sua primeira equipe. Tudo começou lá, quase termina também. Numa partida sofreu fratura no maxilar ao defender a meta do seu time. Teve que ser levando de ambulância para Uberlândia. A cicatriz ainda está no queixo para contar a história, mas jovem goleiro, que alí já era chamado de Pedro Bala, firmou-se na posição que o consagraria depois.

Depois de cinco temporadas pelo Guarani (1961-1965), Pedro Bala jogou quatro pelo Uberaba (1966-1969), de onde chegou a ser procurado pelo Atlético Mineiro, mas a diretoria uberabense “melou” a negociação. Foi então para o Galícia-BA (1970) e Formiga-MG (1970) até chegar ao Atlético Goianiense, onde disputou seis temporadas (1970-1975), sagrando-se Campeão Goiano (1970) e Campeão do Torneio Integração Nacional (1971).

Em 1975 iniciou um contrato com o Vila Nova de onde foi “saído” por racismo do técnico da época. Foi para o Inhumas  e fechou o gol na partida que terminou 0x0 contra o Vila Nova que precisava de uma vitória simples para ser campeão naquele ano.

Mas não era a primeira vez que Pedro Bala fechava a meta atleticana contra o Tigrão. Numa entrevista a Rádio Sagres 730, ele lembrou a defesa que deu o título ao Dragão no Goianão de 1970. O Atlético tinha a vantagem do empate, o Vila precisava vencer:

 “Jogo zero a zero e o Vila Nova não podia marcar. Faltando três ou dois minutos para terminar o jogo, teve um jogador que bateu e a bola caiu no pé do Mosca ali mais ou menos em cima da risca da meia-lua, e a defesa parou, pedindo impedimento. O único que não parou na jogada fui eu, então ele chutou no lado esquerdo e joguei a bola por cima da trave”.

Atlético Goianiense, Campeão 1970: Poli, Pedro Bala, Beloianes, Nelsão, Vavá, Jota Alves, Zé Geraldo, Raimundinho, Luizinho, Lico, Claudinho, Paghetti, Dadi, Dezoito, , Marcos, Ronaldo, Dida, Tung e Celso

Torneio Integração Nacional

Em 1971 a consagração: Campeão do Torneio Integração Nacional, espécie de Série B do Brasileirão, organizada pela extinta CBD (Confederação Brasileira de Futebol). O historiador Vinícius Maskote, pesquisador da trajetória do Dragão, ressalta que 1971 foi mágico para os “atléticos”. O Atlético Mineiro ganhou naquele ano seu primeiro Campeonato Brasileiro da série A, e o Atlético Goianiense o equivalente a época a Série B.

O torneio teve participação de 16 equipes de Goiás, São Paulo, Paraíba, Maranhão, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Amazonas, Ceará e Pernambuco. O Atlético foi campeão sobre a Ponte Preta numa melhor de três jogos. No primeiro, vitória da Macaca (1×0), nos outros dois, o Dragão levou a melhor, também pelo placar mínimo (1×0), sendo o gol do título marcado por Luisinho, aos 14 minutos da prorrogação.

Pedro Bala; Dida, Nelson, Piter e Edno; Zé Geraldo e Dezoito; Claudinho, Toninho, Dadi e Luizinho. O Vila Nova atuou com: Bajoso; Davi, Jair Silvério, Altamiro e Mauro; Curió e Mosca; Lindemberg, Flávio (Elvécio), Guilherme e Mário Jorge. O confronto final foi dirigido pelo árbitro José Pereira Sobrinho, que teve como auxiliares Urias Crescente e João Alberto de Sousa.
Torneio da Integração Nacional, realizado no ano de 1971 em Goiânia.

Inspiração no Aranha Negra

Na sua carreira, Pedro Bala se inspirou em vários arqueiros, mas aquele que mais lhe impressionou foi Lev Yashin, o “Aranha Negra”, da Seleção da União Soviética que levou um passeio de Garrincha na Copa de 1958. Yashin defendeu 150 pênaltis na sua carreira e foi o único goleiro até hoje a ganhar a Bola de Ouro da France Football, prêmio para o melhor jogador da Europa.

Após 1975, ainda jovem, aos 33 anos, Pedro Bala resolveu mudar de profissão. O patrono do Atlético Goianiense, Antônio Accioly,  encaminhou Pedro Bala ao Tribunal de Justiça, onde foi certificado como Oficial de Justiça, profissão na qual se aposentou com uma ficha de serviços honrada e ilibada.

Pedro Bala vive uma vida simples no pacato distrito de Caxambu, que faz parte do município de Cromínia, a cerca de 69 km de Goiânia. Popular no povoado, é cotado como candidato a vereador, mas de antemão descarta a ideia. “Minha contribuição à comunidade foi no Poder Judiciário, não tenho vocação para o Legislativo”, brinca.

Pedro Bala e a esposa Maria Lucy vivem no Povoado do Caxambu, distrito de Moiripotaba, a 69 km de Goiânia

A chegada aos 80 anos é motivo de satisfação para o ex-goleiro, que continua amando o futebol e o seu time do coração, o Atlético Campineiro.

“Quando cheguei a Goiânia realizei um sonho. Queria jogar o campeonato goiano, ser campeão, levantar taça aqui, e o Atlético me deu esta oportunidade. Sou grato ao Atlético, ao Dr. Antônio Accioly e a todos os jogadores, diretoria e amigos que fiz aqui. Sou mineiro de nascimento, mas goianiense de coração”, resume.

Pedro Bala diz que o Dragão da atualidade é um clube moderno, bem gerido e com atletas que tem tudo para dar muitas alegrias à torcida rubro-negra. Ele destaca a eficiência do presidente Adson Batista e de toda diretoria, que fez grandes investimentos no patrimônio do clube.

“O Atlético quase deixou de existir. Hoje é um dos times que tem um dos melhores CT´s, equipamentos modernos de ginástica e uma filosofia de time grande. É assim que se contrói uma história vencedora”, opina.

Parabéns a Pedro Bala e a tantos outros atletas do futebol goiano, que tantas alegrias deram à torcida de seus clubes enquanto estiveram em atividade, e continuam, fora dos campos, dando exemplos às novas gerações.

Ficha técnica

Nome: Pedro Manoel dos Santos – Pedro Bala

Nascimento: 12/06/1942

Naturalidade: Divinópolis (MG)

Altura: 1,80 cm

Peso: 80 kg

Melhor pé: direito

Profissão: Goleiro

Clubes: Guarani-MG (1961-1965; Uberaba (1966-1969); Galícia-BA (1970); Formiga-MG (1970); Atlético (1970-1975); Vila Nova (1975); Inhumas (1975)

Títulos:

Campeão Goiano 1970 – Atlético-GO

Campeão do Torneio Integração Nacional – 1971 (Atlético-GO)

 

Torneio Integração 1971 – Equipes

Anápolis Futebol Clube (Anápolis-GO)
Associação Atlética Ponte Preta (Campinas-SP)
Associação Desportiva Ferroviária (Vitória-ES)
Atlético Clube Goianiense (Goiânia-GO)
Botafogo Futebol Clube (João Pessoa-PB)
Campinas Esporte Clube (Goiânia-GO)
Campo Grande Atlético Clube (Rio de Janeiro-GB)
Clube Náutico Capibaribe (Recife-PE)
Fluminense de Feira Futebol Clube (Feira de Santana-BA)
Fortaleza Esporte Clube (Fortaleza-CE)
Goiânia Esporte Clube (Goiânia-GO)
Goiás Esporte Clube (Goiânia-GO)
Moto Clube (São Luís-MA)
Nacional Fast Club (Manaus-AM)
União Bandeirante Futebol Clube (Bandeirantes-PR)
Vila Nova Futebol Clube (Goiânia-GO)

FINAL

13.10.1971- Ponte Preta 1×0 Atlético
17.10.1971- Atlético 1×0 Ponte Preta
19.10.1971- Atlético 1-0 Ponte Preta

FICHA DO 3° JOGO DECISIVO – ATLÉTICO 1 x 0 PONTE PRETA
Data: 19/10/1971 – Local: Goiânia – Renda: Cr$: 26.881,00

 

Com informações da CBD, FGF, Rádio Sagres e UOL

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