O “intindimento” que ACM queria fazer com Iris, que serve de reflexão para Caiado

O “intindimento” que ACM queria fazer com Iris, que serve de reflexão para Caiado

“Iris, seu lugar é aqui no Senado, onde se discute o Brasil. Sua experiência é importante para o país, e daqui você vai continuar influenciando e vai eleger o nome que represente o seu projeto e o do PMDB em Goiás”, pontuou a raposa política baiana.

 

Marcus Vinícius de Faria Felipe

 

No dia 04 de fevereiro próximo, completa-se 27 anos da disputa histórica pela presidência do Senado entre Iris Rezende Machado (PMDB) e Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ambos haviam sido ministros no governo do presidente José Sarney (1985-1989); ACM, da Comunicação e Iris, da Agricultura.

Acompanhei a época, pelo Diário da Manhã, esta disputa. ACM tinha o apoio velado do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas Iris acreditava que com apoio de Sarney, que naquela ocasião também era senador, poderia virar votos no governo e angariar outros na oposição, derrotando seu colega baiano.

ACM sabia contar bem os votos. Sabia que FHC não iria roer a corda com a bancada do PSDB, e ao final, venceu por 52 votos contra 28 de Iris e um voto em branco. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) reclamou de traição até de companheiros de partido. Mas o fato é que ACM levou.

Mas, é preciso dizer, que ainda no início da disputa, ACM chamou o senador de Goiás para fazer um “intindimento”(*).  Segundo um senador peemedebista, que testemunhou a conversa, ACM ofereceu a vice, mas Iris preferiu bater chapa.

No dia da votação, quando ACM garantiu o 41º voto confirmando a sua vitória, Iris se levantou de sua cadeira no Senado e foi cumprimentar o vencedor: “Não tenho o direito de guardar mágoa, uma vez que a eleição foi limpa e transparente”, disse.

De fato, passado o pleito, ACM e Iris mantiveram relação cordial e respeitosa. O tempo passou e chegaram as eleições de 1998. Em Goiás o governador Maguito Vilela (PMDB) era o favorito para vencer a reeleição, porém, meses antes da disputa dava sinais de que não pretendia concorrer novamente ao cargo. Abria-se, assim, caminho para falar da volta de Iris ao governo de Goiás.

Esse assunto chegou ao Senado, e ACM pediu para conversar com Iris. Segundo um interlocutor, o diálogo teria sido na forma de uma reflexão. ACM lembrou sua trajetória na Bahia, com três mandatos de governador (1971-1975; 1979-1982 e 1991-1994), ressaltando, no entanto, que naquele momento tinha feito a opção pelo Senado, de onde mantinha sua liderança na Bahia.

De fato, naquele ano de 1998, Antônio Carlos Magalhães tinha controle total da Bahia. Os três senadores baianos eram do PFL: Waldeck Ornelas, Josaphat Marinho e o próprio ACM, que também havia garantido as eleições do governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), e do prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy (PFL).

O senador baiano então teria dito isso ao senador goiano:

“Iris, seu lugar é aqui no Senado, onde se discute o Brasil. Sua experiência é importante para o país, e daqui você vai continuar influenciando e vai eleger o nome que represente o seu projeto e o do PMDB em Goiás”, pontuou a raposa política baiana.

Iris, no entanto, não ouviu ACM. Disputou as eleições de 1998, e o resto é história…

Talvez o governador Ronaldo Caiado, que assim como ACM foi fundador do PFL, atual União Brasil, devesse levar em conta a trajetória do político baiano, que ao seu tempo garantiu a eleição de expressiva bancada de deputados federais e de senadores, tornando-se um dos políticos mais influentes no Congresso Nacional, e, é claro, da cena política brasileira.

Se fosse goiano, ACM, teria dito a Iris que é muito “arriscoso” (**) mexer em eleição onde há candidato natural. Costuma dar errado, diria, como de fato deu, pois naquele pleito, Maguito Vilela era o candidato natural à reeleição, assim como nos tempos atuais, Lula é o candidato natural à ser reconduzido a mais quatro anos de mandato ao Palácio do Planalto.

Com 68% de aprovação no Estado, segundo as pesquisas, o governador Ronaldo Caiado é o candidato natural a uma votação estupenda para o Senado, com chances reais de eleger Daniel Vilela (MDB) o seu sucessor, além de garantir o segundo nome ao Senado e uma bancada expressiva na Câmara Federal.

ACM sabia das coisas. Quem tem ouvidos que o ouça.

 

*(intindimento): Iris gostava de utilizar palavra “entendimento”, do jeito como ela era falada coloquialmente no meio rural, onde viveu;

**(arriscoso): arriscado

Foto: Reprodução Folha de S. Paulo