Morte de Henrique Alves reforça a necessidade de uso de câmeras por PM-GO

Morte de Henrique Alves reforça a necessidade de uso de câmeras por PM-GO

Viúva diz que “tinha policiais que não gostavam dele”, porque há 9 anos Henrique teve passagem por tráfico, mas atualmente trabalhava como servente de pedreiro

Henrique Alves Nogueira apareceu morto na última sexta (12) em Goiânia; um dia antes foi flagrado por câmeras de segurança sendo levado por policiais militares após abordagem

Vídeos de um circuito de câmeras de segurança registraram a abordagem policial na última quinta-feira (11), em Goiânia, sobre servente de pedreiro Henrique Alves Nogueira, de 28 anos. Os policiais dão ordem para que Henrique encoste na parede, o revistam e, em seguida, o colocam no camburão da viatura. Henrique apareceu morto no dia seguinte, deixando esposa e um filho de 4 anos.

“Sei que tinham policiais que não gostavam dele por ter passagem. Ter passagem não quer dizer que está no crime”, desabafou em entrevista ao O Popular, a viúva de Henrique Alves Nogueira, que pediu para permanecer anônima.

“Quero que a justiça seja feita. Está bem claro que o que houve com ele foi uma execução”, disse a viúva em entrevista ao Portal UOL. Já o advogado da família, Alan Araújo, afirmou à imprensa que reuniu as provas necessárias para contrapor a versão dos policiais, que declararam que Henrique foi morto em confronto com a polícia quando estava na garupa de uma moto. Esse será seu primeiro passo. Além disso, promete observar as investigações e cobrar indenização na forma de uma pensão do Estado para que a mulher possa criar o filho.

Versão da PM

Segundo a versão dos policiais, registrada no Boletim de Ocorrência do caso, Henrique seria o garupa de uma moto que andava na contramão e, ao tentar uma manobra para escapar da abordagem policial, teria derrapado, fazendo com que o garupa caísse. O piloto ainda teria atirado contra os policiais, que responderam alvejando-o em seguida. Na sequência abordaram Henrique e com ele teriam encontrado diferentes tipos e quantidades de drogas em uma mochila.

Para André Veloso, delegado responsável pelo caso, a versão dos oficiais não parece fazer sentido. Ouvido pela reportagem do Uol, o delegado aponta que, no vídeo obtido pelas câmeras de segurança de imóveis situados no local do acontecimento, Henrique não portava nenhuma mochila. Além disso, o delegado aponta que as investigações estão focadas no intervalo de tempo entre a colocação de Henrique no camburão e seu reaparecimento, já sem vida.

Henrique teria recebido a abordagem policial perto das 8 horas da manhã, quando foi colocado no interior da viatura. No entanto, ele não foi levado para nenhuma delegacia e os PMs só teriam acionado a Polícia Civil por volta das dez da noite relatando o suposto tiroteio com os motociclistas.

Além disso, o advogado acusa os agentes de fraude processual. “Percebemos que houve homicídio qualificado, fraude processual, associação criminosa, porte ilegal de arma e falso testemunho. Esperamos que as investigações sejam concluídas e os responsáveis punidos”, declarou para o Uol. Por sua vez, a Polícia Militar de Goiás afastou os PMs envolvidos no caso e prometeu que o caso será apurado “com o devido rigor.

Câmara nos uniformes reduz letalidade da PM

No Estado de São Paulo o uso de câmeras acopladas aos uniformes de policiais militares para registro das suas ações, implementada em 18 unidades, reduziu o número de mortes em confrontos policiais em 85% nos últimos sete meses do ano passado, comparados ao mesmo período de 2020.

A diminuição de mortes com uso de câmeras pela PM-SP foi registrada nos últimos 7 meses de 2021


De acordo com os dados divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo, de 1º de junho a 31 de dezembro de 2021, houve 17 mortes decorrentes de intervenção policial nesses batalhões. Já em 2020, em igual período, foram 110. Em 2019, também no mesmo intervalo, a Corregedoria registrou 165 mortes — queda de 90%.

O batalhão da Rota – unidade de elite da PM paulista similar à Rotam da PM-GO,  até começo do ano passado era uma das mais letais da corporação, e agora faz parte das unidades que passaram a usar câmeras e o número de mortes caiu 89%.

Em 2021 os PMs de São Paulo mataram durante o serviço 423 pessoas nos supostos confrontos. Em Goiás a PM registra também estes confrontos ou “reação a abordagem policial” para justificar o alto índice de letalidades em serviço. Após o uso de câmeras nos uniformes da PM paulista, houve uma redução de 36% em comparação ao total de 659 mortes registradas em 2020, a menor taxa de letalidade da PM paulista desde 2013 (com 334 óbitos).

Atualmente, o programa do estado, conhecido como “olho vivo”, tem cerca de 3 mil câmeras em funcionamento nos 18 batalhões integrantes. O sistema utilizado pela corporação tem uma tecnologia inédita no mundo e grava todo o turno de serviço, em áudio e vídeo, sem a necessidade de acionamento do botão de gravar.

Projeto parado na Alego

Em Goiás Projeto de lei n 15 de 03 de Março de 2022, do deputado estadual Antônio Gomide, propõe que a PM-GO adote o mesmo procedimento da PM-SP. A matéria está parada na Assembleia Legislativa de Goiás esperando ser colocada em votação, e ainda não foi para frente porque o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) é contrário ao projeto.

Caiado é contra projeto que institui câmeras nos uniformes da PM-GO

Toda vez que é questionado sobre a possibilidade de Goiás seguir os passos de São Paulo no sentido do uso de câmeras pelas PM´s para reduzir a letalidade policial, o governador Ronaldo Caiado sai pela tangente, dizendo que a PM de Goiás é muito eficiente, que as taxas de crimes como roubo de carro diminuíram etc. Ou seja, desconversa.

Mas a reportagem de Luiz Phillipe Araújo, publicada hoje em O Popular, mostra que não basta o governador dizer platitudes. Há excessos sendo cometidos por policiais na PM. A morte de Henrique Alves, só foi veio a público porque foi flagrada por câmeras em residências e estabelecimentos comerciais.

Conforme diz a viúva na matéria, há uma cultura por parte de alguns elementos na PM de Goiás de que “quem tem passagem é bandido e bandido bom é bandido morto”.

Para o bem da corporação policial, e de toda a sociedade, é preciso reverter este conceito, onde PM´s são induzidos a fazer o papel de juiz e carrasco. O serviço de psicologia da PM sabe melhor que a crônica policial o prejuízo que esta filosofia de morte causa em soldados e policiais da corporação.