Que me perdoem Genoíno, Falcão e Altman, mas apontar “pêlo em ovo” não modifica a correlação de forças que o governo tem no Parlamento e na mídia e nem faz avançar um milímetro a luta contra a desigualdade social.
Marcus Vinícius de Faria Felipe
As críticas de figuras do PT contra as políticas implementadas pelo ministro Fernando Haddad, avalizadas todas elas pelo presidente Lula, me fazem relembrar leituras que julgo importantes para o momento. Uma destas leituras é o clássico “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.
Escrito em 1920, em meio à efervescência do movimento operário após a vitória da Revolução Russa de 1917, o texto do líder soviético critica o distanciamento do discurso de alguns líderes comunistas ingleses e alemães da realidade objetiva daqueles dias.
Referência em estudos sobre Gramisci e Lênin, o Historiador, Cientista Político e militante comunista brasileiro, Augusto Buonicore, resume assim o debate:
“Nos capítulos de VI a VIII, Lênin defende a atuação dos partidos comunistas alemães nos sindicatos mais atrasados e nos parlamentos burgueses. Defende também a necessidade de se estabelecerem acordos e compromissos. No capítulo IX, o alvo são os “esquerdistas” ingleses, censurados por se recusarem a estabelecer compromissos com o Partido Trabalhista, reformista, que congregava a maior parte da classe operária inglesa”, elucida Buonicore.
Também numa análise sobre outro livro de Lênin, “Que Fazer?”, escrito em 1902, o professor Miguel Yashida, doutor em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa sintetiza:
“Para o revolucionário russo, as lutas reivindicativas, apesar de serem fundamentais, não são suficientes para a transformação social, pois suas conquistas não se direcionam espontânea ou naturalmente para o questionamento da ordem social. Assim, é necessária uma estrutura organizativa que tenha como objetivo ampliar as lutas e a consciência desses que estão lutando numa perspectiva mais estrutural que tem como pano de fundo a tradição socialista desenvolvida até ali,” alude Yashisda.
Tomo estes dois textos de Lênin, e as análises suscintas de Buonicore e Yashida, para contrapor as críticas dos deputados Ruy Falcão e José Genoíno, e do jornalista Breno Altman, ao pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo que foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Lula e Haddad trabalharam com a realidade objetiva, de que há a necessidade de ajuste nas contas públicas, principalmente com a herança maldita de quase R$ 300 bilhões de décifit deixada pelo governo ultraliberal de Jair Bolsonaro e sua camarilha.
Isto é fato.
Com o ajuste, a dupla mira as agências de rating, visando recuperar o grau de investimento, perdido em 2015, atraindo novos investimentos, barateando o custo do dinheiro para o Brasil que foi majorado pelos especuladores da Faria Lima.
Lula e Haddad também trabalham arduamente para cumprir a promessa feita na campanha de “colocar o pobre no Orçamento e o rico no imposto de renda”. Nesta labuta tem havido avanços e recuos.
“Um passo para trás, para depois dar dois à frente” já dizia Vladimir Ilyich Ulianov.
São muitos os obstáculos no caminho, desde a volúpia do Centrão por verbas do orçamento, ao lobby empresarial contra o corte de subsídios escandalosos de certos setores econômicos.
Por isto o momento é de reunir forças para alcançar a diretriz central, que é isentar do Imposto de Renda os trabalhadores CLT, PJ´s ou MEI´s que ganham até R$ 5 mil e garantir a cobrança de 10% para aqueles com renda mensal de R$ 50 mil ou mais.
“É a luta de classes contra a jornada 6×1 e em favor de cobrar imposto aos mais ricos estúpido!”, diria Liev Davidovich Bronstein (Trotsky), companheiro de Lênin na tomada de poder no 26 de outubro de 1917.
Que me perdoem Genoíno, Falcão e Altman, mas apontar “pêlo em ovo” não modifica a correlação de forças que o governo tem no Parlamento e na mídia e nem faz avançar um milímetro a luta contra a desigualdade social.