Na 79ª Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral destacou aumento da impunidade, desigualdades crescentes e ameaças climáticas e tecnológicas; ele pediu cooperação global urgente para enfrentar os desafios e construir um futuro justo e sustentável.
Nesta terça-feira, Guterres descreveu o atual cenário como um “turbilhão”, caracterizado por divisões geopolíticas, conflitos contínuos e as ameaças iminentes das mudanças climáticas e da agitação tecnológica. Para ele, o estado do mundo é “insustentável”, mas os desafios são solucionáveis.
Crítica a Israel
No discurso que abre a sessão de debates da Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta terça-feira (24), o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, criticou as ações de Israel em Gaza e no Líbano de maneira enfática.
Guterres, que tem sido duramente atacado por Israel por ser uma das vozes ativas em favor de um cessar-fogo em Gaza, não mediu palavras ao condenar as ações israelenses.
“Estamos à beira do inimaginável. Um barril de pólvora que arrisca engolir o mundo”, afirmou Guterres.
“Vemos essa era de impunidade em toda parte. No Oriente Médio, no coração da Europa, no Chifre da África e além. A guerra na Ucrânia está se espalhando sem sinais de trégua. Civis estão pagando o preço com o aumento do número de mortos e vidas e comunidades devastadas. É hora de uma paz justa baseada na Carta da ONU, no direito internacional e nas resoluções da ONU. Enquanto isso, Gaza é um pesadelo constante que ameaça arrastar toda a região com ela”, afirmou.
“Não precisamos olhar mais longe do que o Líbano. Todos devemos estar alarmados com a escalada. O Líbano está à beira do abismo. O povo do Líbano, o povo de Israel e o mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza. Vamos ser claros. Nada pode justificar os atos abomináveis de terror cometidos pelo Hamas em 7 de outubro, ou a captura de reféns, ambos os quais eu condenei repetidamente”, continuou.
“Nada pode justificar a punição coletiva do povo palestino. A velocidade e a escala das mortes e destruição em Gaza são diferentes de tudo que vi em meus anos como Secretário-Geral”, afirmou.
Guerras e impunidade
Para o secretário-geral, “o nível de impunidade no mundo é politicamente indefensável e moralmente intolerável”. Ele condenou as violações flagrantes da lei internacional e dos direitos humanos que têm se tornado cada vez mais comuns.
O chefe da ONU enfatizou que “as violações e os abusos ameaçam a própria base do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”, apontando que países violam acordos e “se sentem no direito de escapar sem consequências”.
Ele disse que é mais importante do que nunca “reafirmar a Carta, respeitar o direito internacional, apoiar e implementar as decisões dos tribunais internacionais e reforçar os direitos humanos”.
Guterres lembra que a guerra na Ucrânia continua a se intensificar, alerta para a situação no Oriente Médio, com a escalada no Líbano e o aumento de vítimas entre os civis e trabalhadores humanitários, citando os mais de 200 funcionários da Agência da ONU para Refugiados Palestinos que foram mortos desde 7 de outubro.
Desigualdade e pobreza
Ao abordar a questão da desigualdade, ele destacou que a diferença de riqueza aumentou significativamente desde a pandemia, com os indivíduos mais ricos acumulando fortunas sem precedentes enquanto os mais pobres do mundo sofrem.
Ele pediu reformas sistêmicas nas instituições financeiras globais para apoiar os países em desenvolvimento e enfatizou a necessidade de igualdade de gênero, destacando o impacto desproporcional da discriminação sobre mulheres e meninas.
Segundo o secretário-geral, apenas 10% dos líderes que vão discursar nos próximos dias são mulheres.
Guterres alertou que a mudança climática sem controle representa uma ameaça existencial, reforçando que as nações devem adotar planos de ação climática ambiciosos que se alinhem ao Acordo de Paris, limitando o aumento da temperatura global em 1,5ºC.
Sustentabilidade
Ele enfatizou que a transição para a energia renovável deve ser justa e inclusiva, afirmando que os países desenvolvidos devem liderar o caminho do financiamento e do apoio às nações em desenvolvimento.
O secretário-geral também abordou os rápidos avanços da inteligência artificial, alertando que, sem uma estrutura global colaborativa, a tecnologia poderia exacerbar as divisões e desigualdades existentes.
No encerramento, Guterres expressou esperança em um futuro mais sustentável, incentivando as nações a trabalharem juntas para criar um mundo com menos impunidade, mais justiça e mais oportunidades para todos.
“As pessoas do mundo estão olhando para nós”, concluiu, pedindo aos líderes que ajam de forma decisiva para o bem comum.
Soluções
Reforçando o olhar para as soluções, o presidente da 79ª sessão da Assembleia Geral, Philemon Yang, ele apontou que os participantes “não são mero espectadores das crises ou impotentes para agir”.
Ele fez um chamado pela ação dos líderes presentes, “pessoas com a autoridade e a responsabilidade de moldar o curso de nosso futuro compartilhado”, apontando que os eventos da semana são críticos para questões como resistência antimicrobiana, subida do nível do mar e eliminação de armas nucleares.
Em meio à escalada no Oriente Médio, Yang também fez um apelo por cessar-fogo em Gaza, soltura dos reféns e cumprimento da lei internacional para assegurar a dignidade de palestinos e israelenses.
ONU News