O relatório final do “inquérito do golpe”, feito pela Polícia Federal (PF), indica que seria montado um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise (GIGC)”, com poderes ditatoriais. O GIGC seria anunciado após a concretização do golpe de Estado contra o presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva (PT), para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
A previsão é de que o Gabinete de Gestão de Crise fosse instalado no dia 16 de dezembro, “formado em quase a totalidade por militares, sob comando dos generais [Augusto] Heleno e Braga Netto (mentores intelectuais do golpe) havendo poucos civis, dentre eles, Filipe Martins, assessor especial da presidência.
A PF descreveu que há provas suficientes para acreditar que os golpistas pensavam em forçar a ruptura democrática mesmo sem ter executado as ações previstas anteriormente, como prisão e execução de autoridades da República.
“Os elementos de prova identificados no material apreendido em poder de Mario Fernandes demonstram que o grupo investigado já atuava prevendo o cenário posterior à consumação do Golpe de Estado, vislumbrando um ambiente de crise decorrente da ruptura institucional. Nesse sentido, planejaram a criação de um Gabinete vinculado à Presidência da República, que seria composta em sua maioria por militares e alguns civis, liderados pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto, para assessorar o então presidente da República Jair Bolsonaro na implementação das ações previstas no Decreto golpista, criando uma rede de inteligência e contra-inteligência para monitorar o cenário pós golpe e ainda atuar o campo informacional para obter o apoio da opinião pública interna e internacional.”
Ações previstas no gabinete de crise do golpe:
1 – Seria formada uma junta militar pelos generais Augusto Heleno e Braga Neto para governar o país, até a posse de Jair Bolsonaro;
2 – O gabinete de crise previa a criação controlar a comunicação de todos órgãos do governo para influenciar a opinião pública nacional e internacional para legitimar o golpe;
3 – Criação de uma rede de espionagem e de repressão nos Estados e municípios, a exemplo do antigo SNI e Doi-Codi da ditadura de 1964;
4 – Operações de guerra psicológica contra adversários, que se traduz do jarguão militar para “prisão e tortura de opositores”;
5 – Acompanhar ações previstas no decreto que oficializaria o golpe;
Campo de concentração
Um trecho do relatório da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado mostra os golpistas prevendo prisão de opositores do golpe. No grupo criado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, intitulado “Dosssss!!!” formado por oficiais que fizeram o curso das Forças Especiais, os chamados “Kids Pretos”, discute a criação de um campo de prisioneiros e cita a palavra “Auschwitz”, que veio a ser o mais terrível campo de concentração da Alemanha Nazista, responsável pela prisão e morte de centenas de prisioneiros, principalmente judeus, ciganos, socialistas e integrantes da religião Testemunhas de Jeová.
Na conversa, um major perguntou se alguém estava se planejando um “CPG sem aparelhos”. A sigla, segundo explicação da PF, significa “campo de prisioneiros de guerra”. O tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, então, responde “Auschwitz”, em alusão à rede de campos de concentração da Alemanha nazista.
Foto da capa: Indígena Krenak sendo carregado em pau de arara por militares na ditadura, num desfile de 7 de setembro – Fotógrafo: Gesko Von Putkamer