O ministro da Justiça, Flavio Dino e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva reagiram às falas recentes feitas pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Zeema afirmou que havia sido criado um consórcio reunindo estados de Sul e Sudeste em oposição ao Norte e ao Nordeste. Ele afirmou que os estados devem “lutar” por uma maior igualdade nos repasses e programas do governo federal. As falas de Zema foram classificadas como “separatistas”.
“É absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte. Está na Constituição, no art 19, que é proibido “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”, escreveu Dino neste domingo (6), em seu perfil oficial no Twitter. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães, ” disse Dino.
Durante a preparação para a Cúpula do Clima que ocorrerá na terça-feira, 8, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez uma declaração contundente neste domingo, 6. Ela afirmou que os estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil seriam destituídos de vida caso não houvesse a presença das unidades federativas que compõem a Amazônia.
“Eu não vi a fala do governador, não sei o contexto, mas o que posso dizer é que as chuvas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são produzidas pela Amazônia, e os povos originários da Amazônia são responsáveis pela maior parte da preservação dessa floresta. Setenta e cinco por cento do PIB da América do Sul está relacionado às chuvas produzidas pela Amazônia”, disse a ministra.
Marina também pontuou:
“Sem a Amazônia, não tem como ter agricultura, indústria, não tem como o Brasil sequer ter vida no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, porque a ciência diz que seria um deserto como o Atacama ou o Saara”.
De acordo com a ministra, a importância dos estados não se dá devido ao “peso populacional”, e sim pela justiça ambiental e da parcela do Produto Interno Bruto [PIB] gerada pela região.
“Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”, disse Zema na entrevista.
NOTA OFICIAL DO CONSÓRCIO DO NORDESTE
O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05
de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste,
indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo
penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.
O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade
regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados
em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns,
buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdadesregionais.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia
em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam
no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a
referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do
alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das
desigualdades regionais, econômicas e sociais.
É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não
representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela
organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.
Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as
desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las,
mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.
A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço
na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em
que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na
sustentabilidade e acredita no seu povo.
Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil
cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas
estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.
JOÃO AZEVÊDO
Presidente do Consórcio Nordeste
Governador do Estado da Paraíba