O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou nesta quarta-feira (18) a proposta apresentada pelo governo brasileiro sobre o conflito envolvendo Israel e o grupo extremista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O texto pedia pausas humanitárias aos ataques entre Israel e o Hamas para permitir o acesso de ajuda à Faixa de Gaza.
O resultado da votação foi 12 votos a favor, duas abstenções, sendo uma da Rússia, e um voto contrário, por parte dos Estados Unidos. Por se tratar de um membro permanente, o voto norte-americano resultou na rejeição da proposta brasileira.
A análise da resolução estava inicialmente prevista para o início da semana, mas foi adiada para esta quarta-feira na sede da entidade, em Nova York.
Após a votação, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, lembrou que o presidente norte-americano, Joe Biden, está, neste momento, na região do conflito, o que, segundo ela, demonstra o envolvimento do país no tema. “Apesar de reconhecermos o desejo do governo brasileiro de aprovar a proposta, acreditamos que precisamos deixar essa diplomacia acontecer.”
“Sim, resoluções são importantes. E sim, esse conselho deve se manifestar. Mas as ações que tomamos devem levar em conta o que acontece no local e apoiar esforços diretos de diplomacia que podem salvar vidas”, disse. “Os Estados Unidos estão desapontados pelo fato dessa resolução não mencionar o direito de Israel de autodefesa. Como qualquer outro país do mundo, Israel tem o direito de se autodefender”.
Na segunda-feira (16), membros do conselho rejeitaram uma proposta de resolução da Rússia sobre o conflito. O país apresentou um projeto de cessar-fogo imediato, incluindo a abertura de corredores humanitários e a liberação de reféns com segurança, mas não condenava diretamente o Hamas pelos atos de violência cometidos contra Israel. A proposta teve cinco votos favoráveis, quatro contrários e seis abstenções.
Brasil lamenta veto
“Tristemente, muito tristemente, o silêncio e inação prevalecem”, lamentou o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, em entrevista ao jornalista Jamil Chade do UOL. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também destacou ao g1 que o Brasil fez “todo o esforço possível” para que a resolução fosse aprovada. A votação chegou a ser adiada em duas ocasiões, na esperança de que um consenso pudesse ser negociado. O texto também ficou sob consulta de todos os membros desde sexta-feira (13).
“Fizemos todo o esforço possível para que cessassem as hostilidades e que se parassem com os sacrifícios humanos. E que se pudesse dar algum tipo de assistência às populações locais, aos brasileiros que estão na Faixa de Gaza. A nossa preocupação sempre foi a questão humanitária neste momento, e cada país terá sua inspiração própria”, afirmou Vieira.
O Conselho de Segurança da ONU já havia se reunido em três ocasiões desde o começo da nova fase do conflito entre Israel e o grupo armado Hamas, no dia 7 de outubro. Por exigência dos estadunidenses, os encontros ocorreram a portas fechadas. Mas não houve nenhum entendido, sequer para pedir o fim da violência que já matou mais de 4 mil pessoas, de ambos os lados, principalmente na Palestina. A avaliação, de acordo com Chade, é que o bloqueio aprofunda a crise política e humanitária, e escancara a incapacidade das potências de chegar a um entendimento para frear o massacre palestino.
Justificativa dos EUA é repudiada
Por meio de sua embaixadora na ONU, o governo de Joe Biden justificou seu veto devido ao texto não fazer referência ao direito de autodefesa de Israel. A postura é a mesma adotada pelo presidente dos EUA que realiza visita oficial a Israel. Nessa terça (17), mesmo diante do bombardeio de um hospital em Gaza, que deixou cerca de 500 pessoas mortas, Biden fez defesa irrestrita do aliado e reproduziu a versão do país, que nega as acusações sobre a autoria do massacre e culpa o grupo Jihad Islâmica, uma organização islâmica que atua em Gaza e também nega qualquer envolvimento no bombardeio.
Risco de genocídio na Palestina
A delegação de Pequim destacou ao UOL que a resolução costurada pelo Brasil era a “visão da comunidade internacional”. “Esperávamos que iriam votar a favor”. Há sete anos o Conselho de Segurança da ONU não chega a um consenso sobre a questão entre Israel e Palestina.
O risco, contudo, é que o ataque sem precedentes que vem sendo perpetrado pelo governo de Benjamin Netanyahu promova uma nova “limpeza étnica em massa” do povo palestino. Como a ocorrida na catástrofe de Nakba, em 1948, com a criação do Estado de Israel, que obrigou quase 700 mil palestinos a deixarem suas casas, indo para a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e outros países da região, como a Síria.
O alerta foi feito pela própria relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, a italiana Francesca Albanese. “A reação de Israel aos crimes horrendos cometidos pelo Hamas vai muito além do que é razoável e proporcional. Está se tornando uma operação militar interminável. Israel gerou uma catástrofe dentro da catástrofe. E a resposta da comunidade internacional é repugnante. A situação saiu do controle, e, se não for interrompida, veremos o terceiro e maior deslocamento forçado de palestinos de suas terras”, denunciou.
Entenda
O Conselho de Segurança da ONU tem cinco membros permanentes, a China, França, Rússia, Reino Unido e os Estados Unidos. Fazem parte do conselho rotativo a Albânia, Brasil, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes. Para que uma resolução seja aprovada, é preciso o apoio de nove do total de 15 membros, sendo que nenhum dos membros permanentes pode vetar o texto.
Com RBA e Agência Brasil