Estadão destaca empresa goiana que preserva florestas com títulos na B3

BMV, cuja CEO é a economista Maria Tereza Umbelino aposta na CPR Verde, que é mais eficiente que os programas de Redd++

A jornalista Cristiane Barbieri , do jornal Estado de S. Paulo, destaca a empresa Brasil Mata Viva, a BMV, como uma das principais responsáveis pela proteção de matas de cerrado e floresta amazônica no Centro-Norte do país. A empresa que tem, como CEO a ecomomista Maria Tereza Umbelino, é responsável pela modalidade de crédito de carbono genuinamente nacional, a UCS (Unidade de Crédito de Carbono), que é comercializada na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a B3, sob a fórmula de CPR Verde.

Sob o título, “A mulher que deixa a floresta em pé,  quer colocar biomas em toda emissão corporativa”, reportagem, que foi republicada pelo site UOL, explica que a CPR (Crédito do Produtor Rural) já é velha conhecida no mercado do agronegócio, e constitui-se num título pelo qual o produtor de commodities vegetais (soja, milho, algodão etc) ou proteína animal (bovinos, suínos etc) se compromete junto a uma empresa (graneleiros, indústrias alimentícias) na entrega de uma determinada quantidade de toneladas de grãos e/ou bovinos, mediante um deságio acordado entre as partes. Assim a CPR serve como garantia de venda para a indústria e de adiantamento de recursos para o agricultor, que assim pode financiar sua lavoura a preços mais baratos.

A CPR-Verde compreende que a mata em pé, ou seja, a floresta mantida pelo produtor rural na sua propriedade representa um ativo já performado, ou seja, se a mata existe e é mantida pelo fazendeiro, isto já é um serviço ambiental prestado.

 

Economista de formação, Umbelino, de 57 anos, ajudou a criar o banco de fomento de Goiás, foi professora universitária e teve passagens pelos setores público e privado. Mas foi na busca pela solução de um problema em sua casa que começou a trilhar um longo caminho para a criação das UCS, a base das Cédulas de Produto Rural (CPR) Verdes,

CPR-Verde x Redd++

A CPR foi regulamentada ainda no governo do presidente Jair Bolsonaro e já é negociada pela B3, como ativo ambiental. A tendência é que a CPR ganhe cada vez mais força, ainda mais com o escândalo que compromete a credibilidade do crédito de carbono conhecido pela sigla Red++. De acordo com matéria veiculada pelo G1, do grupo Globo, “empresas usaram terras públicas no Pará como se fossem particulares para vender créditos de carbono a gigantes multinacionais”.  Os projetos estavam posicionados na plataforma Verra (Verified Carbon Standard), empresa com sede na California (EUA), responsável pela certificação de projetos de floresta em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

Segundo o G1, Defensoria Pública do Pará entrou com ações na Justiça contra empresas. Três projetos estão sobrepostos a áreas de florestas públicas estaduais sem autorização do governo do Pará. Créditos gerados foram usados por grandes multinacionais e até um clube de futebol da Inglaterra para compensar emissões.  Defensoria Pública do Pará, que entrou com três ações civis públicas na Vara Agrária de Castanhal contra os envolvidos em três projetos de crédito de carbono, localizados na área rural de Portel.

Outro projeto de redd++ também foi denunciado por fraudes na certificação pela Agência Pública, que registrou com o título: “Empresa vende créditos de carbono sobre terras públicas na Ilha do Marajó”, onde a empresa Ecomapuá Conservação comercializava créditos de carbono gerados no interior de duas unidades de conservação federais – as Reservas Extrativistas (Resex) Mapuá e Terra Grande-Pracuúba –, na Ilha do Marajó (PA), sem repassar diretamente o dinheiro às comunidades tradicionais que ocupam os territórios e preservam a floresta amazônica na região, prestando o serviço ambiental que permite as transações.

Em dezembro do ano passado, a Agência Pública revelou que as comunidades das Resex questionavam a legitimidade do projeto realizado pela Ecomapuá Conservação em cinco imóveis, dos quais quatro incidem parcial ou quase totalmente sobre a área das reservas, localizadas nos municípios de Breves, Curralinho e São Sebastião da Boa Vista, todos na Ilha do Marajó. Segundo lideranças, as populações extrativistas, concessionárias dos territórios perante o Estado brasileiro, não têm acesso direto aos recursos provenientes da comercialização dos créditos – nem sequer conhecem os valores –, tampouco possuem poder de decisão sobre os rumos do projeto.

Floresta Amazônica: vista panorâmica de áreas preservadas em Jacundá (PA). Reprodução: Exame – foto de Mariana Grilli/Exame

Programa BMV

De acordo com a matéria do Estadão, a presidente da “greenlech” BMV, Maria Tereza Umbelino é tuna mulher despachada e numa palestra com mais de 30 mil pessoas, explicou de maneira simples o é a UCS (Unidades de Crédito de Sustentabilidade) do programa BMV, salientando que os créditos estão certificados em uma plataforma “token” , com tecnologia “blockchain”.

Economista de formação, Maria Tereza Umbelino, de 57 anos, ajudou a criar o Banco de Fomento de Goiás, foi professora universitária e teve passagens pelos setores público e privado. Mas foi na busca pela solução de um problema em sua casa que começou a trilhar um longo caminho para a criação das UCS, a base das Cédulas de Produto Rural (CPR) Verdes, que já superam 233 milhões de negociações e são cotadas na B3.

No entanto, na época da definição do Código Florestal, seu pai, produtor rural em Goiás e no Mato Grosso, poderia ser autuado por ter desmatado menos do que a lei determinava.

Atrás de uma alternativa, Umbelino foi ao Ministério do Meio Ambiente e ouviu que os produtores não seriam remunerados pela mata preservada. Com o novo marco legal, ela se tomaria um custo, jamais um ativo. Resolveu então juntar produtores numa audiência pública em Santa Cruz do Xingu (MT) e começou ali, em 2007, a trilhar o caminho que inverteu o raciocínio: transformar a preservação da floresta em ganho, como se fosse uma safra anual, ao lado de outras culturas, como milho, soja ou café.

“A lógica era que, se cuidar da floresta era um trabalho, ele deveria ser remunerado”, diz ela.

Só que, à época, as consultas a advogados e especialistas mostraram que não havia marco legal para embasai essa tese. Ao lado dos produtores, conseguiu criai’ uma atividade reconhecida por lei, de agricultura de conservação da natureza. Ela também atuou ativamente paia a elaboração do Novo Código Florestal, que permitiu o modelo.

27 serviços ambientais certificados

Para dar credibilidade ao programa de preservação ambiental, Maria Tereza Umbelino determinou que era preciso medir e quantificar os ativos produzidos pela floresta em pé. A economista se juntou a especialistas que identificaram 27 serviços prestados pela mata, entre eles formação de solo, armazenamento de carbono, abastecimento de aquíferos, polinização e regulação do clima.

“Quando essa medição toma-se possível, o negócio passa a ser tangível: toma-se um ‘token’, produzido por uma ‘blockchain e, portanto, inviolável, e a UCS vira iun produto como qualquer outro”, diz ela.

No início, porém, não havia blockchain, nem dinheiro para pagar os especialistas que desenvolveram os padrões desse sistema. Foram mais de 70 entidades – entre universidades, consultorias, auditorias e outros profissionais – remunerados em UCS e com eventuais prestações de serviços.

“Sempre tivemos uma lógica cooperativa”, diz ela. Na distribuição dos recursos negociados pelas UCS, 60% ficam com os produtores (sendo metade destinada à comunidade na qual ele está inserido), 30% vai paia a BMV e 10% remunera o investidor financeiro. A BMV hoje fatura R$ 30 milhões anuais e já atingiu o ponto de equilíbrio, ou “breakeven”.

Logo no início do processo, um primeiro projeto, feito com a Vale, por exemplo, permitiu o mapeamento das áreas, cálculos e repasses iniciais a alguns proprietários rurais, de diferentes portes. “Sempre formamos grupos de pelo menos 20 produtores rurais, num raio de 200 quilômetros, que se comprometem a preservar a floresta por 25 anos”, diz ela. “Não Irá como preservar se elas estiverem em propriedades isoladas.”

Detalhe: sem a blockchain, o monitoramento era feito por QR Code, que identificava a propriedade, seus donos e a situação da preservação. A greentech, aüás, nasceu bem antes desse conceito existir.

“Usávamos a georreferenciação quando o conceito mal existia”, afirma. “Era o que havia de mais moderno na época e conseguíamos acesso à tecnologia graças às parcerias com as universidades.” Paia o futuro, inteligência artificial e um painel de controle (dashboard) que tome os cálculos do valor agregado pelos serviços florestais mais fáceis.

Compensação

Se até então o desafio da BMV era prestar serviços de medição e organização das UCS, após a primeira apresentação sobre a metodologia no exterior, em 2011, começaram a ser feitas as primeiras vendas para estrangeiros, via plataforma Markit. Eram pequenas, mas mostravam a perspectiva do negócio, que hoje tem 516 clientes ativos, que compram com recorrência as UCS e quase 300 produtores rurais, com mais de um milhão de hectares das regiões Norte e Centro-Oeste cadastrados no sistema, além de uma grande fila de interessados.

Isso porque a cotação de cada UCS tem girado em tomo de R$ 140. A cotação oscila conforme uma série de itens que indicam o custo de oportunidade, como culturas de grãos e o preço da própria madeira dura no mercado internacional.

“Um hectare de terra na Amazônia produz mil UCS e, se todas forem negociadas, não Irá cultura que pague o mesmo valor”, diz ela. “O eucalipto, que é a produção mais valiosa, rende R$ 1,7 mil por hectare, por exemplo.”

Paia o investidor, como a Starbucks, que emitiu uma Nota Comercial Privada Verde de R$ 20 milhões financiada pelo BV e estruturada pela BMV, no fim do ano passado, o investimento é diluído em cada produto vendido. Por centavos a mais no café, por exemplo, a empresa consegue oferecer ao cliente um produto com equivalência de impacto ambiental.

O custo do dinheiro, em muitos casos, também fica mais em conta. Entre as empresas que usam as UCS estão muitas pequenas e médias transportadoras, que oferecem a compensação ambiental como um serviço  a mais nos fretes prestados a grandes companhias multinacionais. A margem das empresas de logística, nesse caso, chega a ser 30% maior.

João Marcello Gomes Pinto, sócio da consultoria especializada em edificações Sustentec e co-fundador da Pachamama Investimentos, trabalha na área de sustentabihdade há 15 anos e, há pelo menos três, conheceu o trabalho de Umbelino e da BMV. Paia ele, é uma iniciativa inovadora. “É uma visão parecida com a nossa, de entender a vocação do Brasil como protagonista em soluções ESG (ligadas às boas praticas ambientais, sociais e de governança) e de combate à mudança climática”, afirma. “Enquanto não incorporarmos valores e seiviços prestados pelo meio ambiente ao ciclo econômico, ele continuará relegado à segunda instância.”

O principal desafio da BMV, agora, é dar escala ao uso das UCS em todo e qualquer produto financeiro. A ideia é usai’ o apelo das ofertas que compensem o impacto ambiental em toda e qualquer área. Outro é a regulação fundiária, já que apenas 10% das florestas brasileiras são elegíveis para gerar esse tipo de produto. Parques nacionais e terras indígenas ainda não entram nesse grupo, e Umbelino terá mais um desafio para destravar.

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