Reportagem da rede alemã de comunicação traz entrevista com pesquisadores da FGV revelando que após crise de representatividade vista no Brasil a partir de 2013 e que marcou eleições de 2018, discurso antissistema minguou, e importância da política voltou a nortear o debate eleitoral
De acordo com a rmatéria, é por meio de questões como patrimonialismo, meritocracia e politização do Judiciário que os pesquisadores Gabriela Lotta, cientista política e professora da Fundação Getúlio Vargas, e Pedro Abramovay, advogado e diretor para América Latina e Caribe da Open Society Foundation, dissecam o Estado brasileiro dos últimos anos no recém-lançado livro A Democracia Equilibrista.
No meio da narrativa, que se concentra principalmente no período entre as manifestações de 2013 e o governo de Jair Bolsonaro, a Operação Lava Jato ocupa, é claro, um papel importante – e criticado pelos pesquisadores.
“[Ela] mostra exatamente esse processo em que uma burocracia supostamente neutra, técnica, que está lá a partir de um concurso supostamente isonômico, está na verdade disputando interesses políticos, espaços políticos. Muitas vezes atravessando as leis”, afirma Lotta à DW.
“É um fenômeno muito parecido com quando a política atravessa a técnica. Você passa por cima da legalidade em nome de interesses que não são possíveis de serem equilibrados em uma disputa justa que faz parte da democracia”, diz.
Em A Democracia Equilibrista, Lotta e Abramovay mostram que a construção de um regime eficiente e saudável parte da relação e das tensões entre uma burocracia independente e as disputas naturais da democracia. Em outras palavras, uma balança com a técnica de um lado e a política de outro.
“A gente pressupõe um equilíbrio”, diz Lotta, ressaltando que se trata de algo “muito difícil e frágil, mas necessário”.
Por atacar sistematicamente as instituições, do Supremo Tribunal Federal (STF) às urnas eletrônicas, Bolsonaro é visto pelos autores como um exemplo que, como enfatiza Lotta, “acaba comprometendo o funcionamento da democracia”.
Para a pesquisadora, nas eleições de 2022 vê-se o discurso antipolítica e antissistema perder força e “a volta da política como um elemento norteador de nosso debate eleitoral, o que é muito positivo para o funcionamento da democracia”.