As visitas de Lula e Pedro II ao Egito e o golpe de Estado debelado por JK na Etiópia

As visitas de Lula e Pedro II ao Egito e o golpe de Estado debelado por JK na Etiópia

O presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) cumpre  agendas na África, continente que tem taxa de crescimento superior a América Latina.

 

Marcus Vinícius de Faria Felipe

Lula visitou primeiro o Egito, país com o qual o Brasil tem 154 anos de relações diplomáticas, desde que o Imperador D. Pedro II estabeleceu laços com o país, durante visita a Cairo na década de 1870.

Lula agradeceu a ajuda do Egito na liberação de brasileiros da Faixa de Gaza e emplacou aumento nas exportações para o País. Na Etiópia, o mandatário brasileiro assinou acordos para melhorar as relações comerciais e diplomáticas com o país, que é uma das economias que mais cresce no continente africano.

Sobre a Etiópia, é importante lembrar que o país deve ao Brasil, mais precisamente ao presidente Juscelino Kubitschek, o apoio para debelar um golpe de Estado. Não deixa de ser uma curiosa consciência da história, Lula visitar Adis Abeba neste momento em que a Polícia Federal e a Justiça brasileira expõe os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado no Brasil.

O jornalista Sebastião Nery, autor de livros como “Folclore Político do Brasil” e “Ninguém me contou, eu vi”, escreveu que foi em um jantar em Brasília com o Imperador da Etiópia, Hailé Selassié, que o nosso presidente Bossa Nova, salvou o povo etíope de uma ditadura.

Hailé Selassié, o Leão de Judá, pediu empréstimo ao presidente JK para debelar golpe na Etiópia, quando estava em visita a Brasília, em 13 de dezembro de 1960

Veja o relato de Sebastião Nery:

“Taferi Makonen e Hailé Selassié, Leão de Judá, imperador da Albissínia-Etiópia, veio ao Brasil de 13 a 16 de dezembro de 1960. Estava jantando no Palácio do Alvorada, quando aproximou-se um assessor e disse-lhe qualquer coisa no ouvido.
Selassié para um instante, pensa, volta a jantar. Juscelino percebeu:
– Algum problema, imperador?
– Acabo de ser deposto por meu filho na Abissínia. Mas não vamos alterar o programa. Quero apenas, quando sairmos daqui, uma audiência reservada com o senhor.

Foram para o gabinete. Selassié pediu a JK que convocasse o gerente do Citybank. Queria sacar 100 mil dólares para alugar um avião e mandar de volta os cem generais que tinham vindo com ele.

Veio o gerente. Não podia ser. O dinheiro, depositado em nome do país, já tinha sido bloqueado, por ordem de Adis-Abeba. Só havia uma possibilidade: se o Brasil avalizasse o cheque.

Juscelino mandou chamar o secretário-geral do Itamaraty, Edmundo Barbosa da Silva, que estava respondendo pelo Ministério do Exterior. Na hora de assinar o cheque, avalizando, o embaixador tremeu tanto que a assinatura não saía. Juscelino tomou a caneta:
– Ora, Edmundo, me dá que eu assino isso.

Selassié agradeceu JK. Disse que voltaria a Etiópia e debelaria o golpe sem derramar uma gota de sangue.

De pronto, o Leão de Judá alugou um avião da Panair, embarcou na frente os cem generais, cumpriu tranquilamente todo o programa, voltou para a Abissínia e sufocou o levante.

 De fato, não derramou sangue: Mandou enforcar o general Girmamé Neway, seu irmão Mengistu e o “ras” Imru, primeiro-ministro, comandante do golpe (outros conjurados suicidaram-se), deu uma surra pública de chicote no filho e príncipe herdeiro Merede Azimach Asfa-Wessen Hailé Selassié, mandou-o embaixador para Londres, e ficou no trono como imperador até os 82 anos.

Um dia, perguntei a Juscelino:
– E se o imperador não reassumisse?
– O prejuízo seria de 100 mil dólares. Mais barato do que cem generais estrangeiros morando no Copacabana Palace e bebendo toda noite no Sacha´s”, explicou.

Brasília (DF), 08.01.2023 – Golpistas invadem o Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Reação ao golpe e aos golpistas aplicando a lei

O ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), foi um dos conspiradores do Golpe de 1964. Queria ser presidente após a deposição de João Goulart, o Jango, mas foi traído pelos militares.

Lacerda foi a Paris explicar a tal “revolução redentora de 1964”, logo no aeroporto de Orly, irritou-se com a pergunta de um jornalista sobre não ter havido derramamento de sangue na tal “revolução” e disparou: “É que revolução no Brasil é como casamentos, na França, não tem sangue”. A frase é uma alusão machista sobre as francesas não casarem virgens.

E foi sem sangue que o golpe de 2022 foi debelado no Brasil, graças ao pulso firme do presidente Lula (PT).

O mandatário brasileiro não caiu na armadilha de convocar uma GLO (Garantia de Lei e Ordem), que era o plano dos golpistas, conforme mostram as investigações da Polícia Federal. Ao invés disto,  Lula determinou intervenção no Governo do Distrito Federal, na Polícia Militar do DF e colocou como interventor o secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, que agiu com rapidez para debelar os baderneiros.

O resto já é história.

O presidente Lula, em reunião com o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed. País é chamado “China da África” por registrar taxas de crescimento de 12% a.a. Foto: Ricardo Stuckert

Mais comércio com a África

Lula vai voltar do continente africano com boas notícias para a economia brasileira. O empresários do agronegócio que o digam. O governo do Egito elevou o Brasil à categoria de “pre-listing” para exportação de carnes bovina, suína e de aves. Esta decisão impacta diretamente pelo menos 30 frigoríficos brasileiros que aguardavam há mais de quatro anos a autorização para embarcar seus produtos para o mercado egípcio.

Na Etiópia, Lula participa da  Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, que reúne 54 países. A meta é ampliar as relações diplomáticas, culturais e econômicas com a África.

Desde 2018, a Etiópia é o país que registra crescimentos anuais entre 8% e 12%. Sendo assim, a Etiópia foi o país que mais cresceu no mundo durante esse período e é conhecida como a “China da África”. O PIB da Etiópia multiplicou por dez vezes entre 2003 e 2017.