A divulgação de um vídeo institucional pela Marinha do Brasil no último domingo (1º) gerou uma onda de críticas nas redes sociais. A peça, com duração de 1 minuto e 16 segundos, contrapõe cenas de militares em treinamento árduo e missões a momentos de lazer de civis, acompanhada da provocação: “Privilégios? Vem para a Marinha.” A mensagem veio à tona poucos dias após o anúncio do pacote de ajuste fiscal do governo Lula, que incluiu mudanças nos benefícios previdenciários das Forças Armadas.
As críticas apontam para a insinuação de que somente os militares trabalham, ignorando a realidade de outras profissões igualmente exigentes e mal remuneradas, como garis, agricultores e operários. “Para a Marinha, não existe classe trabalhadora. Os civis são um bando de turistas no Brasil, enquanto eles fazem tudo”, escreveu o professor universitário Piero Leirner, no X.
Procurada, a assessoria da Marinha afirmou ao repórter Pedro Vilas Boas, do UOL, que o vídeo é composto em sua totalidade por militares da força. E disse que, em nenhum momento, foi utilizada inteligência artificial.
A peça de publicidade de um minuto e 16 segundos foi divulgado com a justificativa de incentivar jovens a ingressarem na carreira. Ela contrapõe imagens de membros da Marinha em ação e em treinamento duro e cenas festivas e alegres do cotidiano dos brasileiros. Ao final, uma militar questiona: “Privilégios? Vem para a Marinha”.
o vídeo vem sendo muito criticado nas redes sociais por passar a mensagem de que enquanto os civis se divertem na praia e em baladas, as Forças Armadas trabalham. Muitos perguntam se, para a Marinha, não existe classe trabalhadora que desempenha funções pesadas. E os operários, agricultores, vaqueiros, garis, coveiros e tantas outras profissões?
Ameaça ao governo
Para muitos, a peça publicitária representa uma ameaça ao governo Lula, principalmente por ter sido divulgada apenas dois dias após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar um pacote de medidas para corte de gastos. O pacote inclui reduções no orçamento das Forças Armadas e modificações nos regimes de previdência e pensão dos militares.
Nos bastidores, integrantes das Forças Armadas têm manifestado insatisfação com as propostas do governo. O vídeo reforça a percepção de que a Marinha não estaria disposta a abrir mão de seus privilégios, tornando ainda mais tensa a relação entre os militares e o Executivo.
“O vídeo parece ser mais do que uma peça de recrutamento: é uma provocação política. Uma força que flerta com a subversão da Constituição deveria agir com mais humildade“, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto, do UOL.
Reação ao corte de privilégios
O vídeo com suposta ameaça velada ao governo Lula e provocação à sociedade civil por conta do possível corte de privilégios dos militares seria uma resposta do comando da Marinha às reclamações de oficiais sobre a falta de reação diante do pacote de corte de gastos proposto pelo ministro Fernando Haddad.
Na última semana, Haddad anunciou um pacote fiscal com o objetivo de economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Entre as medidas que afetam diretamente as Forças Armadas, estão a adoção de uma idade mínima progressiva de 55 anos para militares entrarem na reserva remunerada, a extinção da chamada “morte ficta”, que permitia a concessão de pensões a dependentes de militares expulsos, e limitações na transferência de pensões para herdeiros.
Outra medida proposta pelo governo é a introdução de uma contribuição de 3,5% dos salários dos militares ao Fundo de Saúde. O impacto financeiro dessas mudanças é uma economia estimada em R$ 2 bilhões anuais.
A Marinha foi a primeira força armada a divulgar aos seus oficiais, através do Boletim de Ordens e Notícias, as propostas do governo que atingiriam os militares. Os oficiais ficaram indignados com as mudanças, especialmente com a implementação da idade mínima para aposentadoria e o aumento da contribuição descontada nos salários destinada ao Fundo de Saúde.
Com informações do UOL, DCM e Fórum