General Heleno amarga mais uma derrota na sua guerra contra a democracia

General Heleno amarga mais uma derrota na sua guerra contra a democracia

CPMI do Golpe e delação de Mauro Cid podem levar o ex-ajudante de ordens de Sylvio Frota à prisão

 

Marcus Vinícius de Faria Felipe

 

O General Augusto Heleno nunca foi um amante da democracia. Desde muito cedo alinhou-se a chamada “linha-dura” do Exército, que em 1977 tentou um golpe contra o general-presidente Ernesto Geisel.

Augusto Heleno era ajudante-de-ordens do general Sylvio Frota, até então poderoso Ministro do Exército e pretenso candidato a sucessão de Geisel. Frota tramou para depor Geisel e endurecer a ditadura, mas Geisel antecipou-se ao rival. Às 7h da manhã de 12 de outubro de Geisel chamou Frota ao seu gabinete, e sem rodeios anunciou:

– Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos. Além disso você é candidato a presidente e está em campanha. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.

– Eu não peço demissão – respondeu Frota.

– Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não vai pedir demissão, vou exonerá-lo.

Frota foi para reserva e o golpe micou.

 

Geisel demite Frota e evita o endurecimento da ditadura militar em 1977

Geisel já havia participado de quatro golpes de Estado vitoriosos em 1930 e 1937, 1945 e 1964. Sabia como se ganha e como se perde, porque também foi derrotado em outras três tentativas em 1955, contra Juscelino Kubstichek, 1961, contra João Goulart e 1965 contra Costa e Silva. Talvez por isto ele dizia com frequência:

“Esse negócio de golpe é muito difícil. Vi sete, posso falar”.

Augusto Heleno participou de três golpes. Ganhou um, perdeu dois.

Depois da amarga derrota como segurador de pasta de Frota, Augusto Heleno participou com o seu colega de cavalaria, o general Sérgio Etchegoyen, da trama que apeou Dilma Roussef (PT) da presidência da República. Segundo reportagem publicada pela Revista Fórum, Heleno e Etchegoyen eram membros do grupo  de whatssap chamado  “Notícias do Brasil”, organizado para dar o golpe em Dilma e que foi extinto no dia 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro promoveram atos terroristas e depredaram as sedes dos três poderes em Brasília.

Heleno e Etchegoyen colocaram Michel Temer no Palácio do Planalto,  levaram Lula à prisão na masmorra da Lava Jato em Curitiba (PR) e abriram caminho para vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. E Heleno achou que 2016 iria se repetir em 2022, mas como dizia Geisel, “é difícil dar golpe”. Ainda mais sem o apoio dos Estados Unidos.

A marinha dos EUA não ajudou os golpistas de 2022, como fez em 1964

Se em 2015/2016, o presidente Barak Obama e seu vice, Joe Biden, autorizaram FBI & Cia a grampear Lula e Dilma,  fornecendo elementos para Sérgio Moro e a Lava Jato tirar ambos do poder, em 2021/2022, o presidente Joe Biden deixou bem claro para os militares brasileiros que não repetiriam o enredo de 2016 e nem fariam uma nova Operação Brother Sam, que em 1964 garantiu o golpe contra João Goulart.

Autorizada pelo presidente Lyndon Baines Johnson, a Brother Sam deslocou da base naval de Norfolk (Virginia-USA) dois porta-aviões, com uma esquadrilha de aviões de caça, um navio com 50 helicópteros, um encouraçado, uma embarcação de transporte de tropas, além de navios petroleiros e colocados à disposição da frota 25 aviões C-135 e 110 toneladas de armas e munições. A frota norte-americana não chegou ao Brasil, porque Goulart tomou conhecimento da sua existência e preferiu se auto exilar no Uruguai a lançar o país numa guerra civil fratricida.

Os EUA não vieram em socorro ao general Augusto Heleno e apesar de todos os bilhões gastos pelo governo do ex-capitão Jair Bolsonaro, o povo foi às urnas e disse não à continuidade da administração genocida e deu a Lula um terceiro mandato de presidente.

 

A CPMI do Golpe e as investigações à cargo da Polícia Federal, no âmbito da Operação Lesa-Pátria devem esclarecer a participação do general Augusto Heleno e de seus subordinados no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no fracassado golpe do dia 8 de janeiro.

Suas contradições foram mais que expostas pelos deputados na CPMI.

 

Não haverá anistia para Augusto Heleno e os seus subordinados.

Em 1977, Heleno, o ajudante-de-ordens de Frota, não foi atingido pelo fracasso de seu general. Em 2022, a delação do ex-ajudante-de-ordens, Mauro Cid pode colocá-lo na prisão.