Coalizão formada por socialistas, ecologistas e comunistas na Nova Frente Popular derrota ultra-direitistas do RN de Marie Le Pen
obtendo uma vitória esmagadora nas eleições nacionais, elegendo 412 dos 650 assentos do Parlamento, foi a vez da França barrar a ascensão da extrema-direita ao poder.
As estimativas divulgadas pelo instituto Ipsos e do grupo Talan mostram a Nova Frente Popular, que reúne socialistas, verdes em comunistas venceu o o segundo turno das eleições eleições legislativas, podendo ficar com 172 a 205 cadeiras no parlamento.
A centro-direita reunida sob a liderança do atual presidente Emmanuel Macron deve conseguir de 150 a 170 cadeiras. Já o partido de extrema direita, Reagrupamento Nacional, de Marie Le Pen e seus aliados, devem obter de 132 a 152 assentos, muito abaixo do estimado inicialmente: 230 cadeiras.
O partido conservador Os Republicanos pode conquistar entre 57 e 67 cadeiras. Para governar sem a necessidade de alianças, é preciso obter 289 cadeiras no parlamento.
Diante das projeções, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou que vai renunciar ao cargo nesta segunda-feira (8). “Sei que, à luz dos resultados desta noite, muitos franceses sentem uma espécie de incerteza quanto ao futuro, uma vez que não surgiu nenhuma maioria absoluta. Nosso país vive uma situação política sem precedentes e se prepara para receber o mundo dentro de algumas semanas. Além disso, obviamente assumirei as minhas funções enquanto o dever assim o exigir”, afirmou.
O presidente Emmanuel Macron evitou declarações públicas. Em nota emitida pelo governo, informou apenas que vai esperar a estruturação da nova Assembleia para “tomar as decisões necessárias”.
Celebrações pelo país
O líder do partido de esquerda França Insubmissa, deputado Jean-Luc Mélenchon, comemorou a mobilização eleitoral que alcançou “um resultado que se dizia impossível”.
“Nosso pessoal descartou claramente a pior solução para eles. Esta noite o [partido de extrema direita Reunião Nacional] RN está longe de ter maioria absoluta. É um enorme alívio para milhões de pessoas que compõem a nova França”, afirmou Mélenchon, segundo o jornal francês Le Monde.
Para ele, a vontade do povo deve ser confirmada, com o presidente Emmanuel Macron convocando a frente para o governo, com um novo primeiro-ministro.
“O presidente deve curvar-se aos resultados da esquerda, que se torna maioria na Assembleia, sob a bandeira da coligação Nova Frente Popular”, disse Mélenchon.
Apelando a Macron para nomear um novo primeiro-ministro da aliança de partidos de esquerda: “O primeiro-ministro deve ir. O presidente tem o dever de convocar a Nova Frente Popular para governar, ela está preparada para isso”, concluiu ele, ressaltando que a frente não faria nada além de aplicar seu programa, escolhido pela maioria.
Governo de Esquerda
O líder da Nova Frente Popular (NFP), Raphael Glucksmann, afirmou que é preciso reconhecer a atual situação do país, e agir de acordo com as mudanças de cultura necessárias.
“O país precisa encontrar paz. Precisamos agir como adultos agora, o parlamento está dividido”, disse.
Olivier Faure, liderança do Partido Socialista da França, celebrou a vitória da esquerda, mas, principalmente, a derrota da extrema direita.
“Esta noite, a França disse não à chegada do [partido de extrema direita Reunião Nacional] RN ao poder”, afirmou.
Ele acrescentou que descarta qualquer governo de coligação entre a esquerda e o bloco macronista. “A Nova Frente Popular deve assumir o comando desta nova página da nossa história”, afirmou, acrescentando que os partidos de esquerda devem governar e implementar o programa comum da Nova Frente Popular.
🇫🇷 "A esquerda francesa celebrando a vitória, cantando a internacional.
Emocionante, porra, temos que recuperar nossos valores, sem medo."
Via @josevico4 pic.twitter.com/WiQBPHkhZA
— O Cafezinho ☕️🗞 (@ocafezinho) July 7, 2024
União contra o fascismo
No primeiro turno, a NFP conseguiu cerca de 28% dos votos, elegeu 32 deputados e se qualificou para cerca de 400 disputas no segundo turno.
A marca da NFP neste segundo turno foi ainda mais surpreendente porque a aliança acabou retirando no segundo turno mais de uma centena de candidaturas em disputas triangulares (quando mais de dois candidatos passam para o segundo turno) com o objetivo de reforçar concorrentes moderados mais bem posicionados para derrotar a ultradireita.
Dois atletas que fizeram a diferença na vitória da esquerda na França. pic.twitter.com/q29OuH8etp
— Pedro Ronchi (@PedroRonchi2) July 7, 2024
Frente Popular fez governo transformador em 1936
Nas eleições de 1936, a Frente Popular, que agregava movimentos de esquerda, os partidos socialista, radical e comunista, conseguiu 376 lugares no parlamento. Já a Frente Nacional, de direita, obteve 222 lugares. Foi neste governo que foram feitas reformas como férias pagas, semana de quarenta horas, estabelecimento de convenções coletivas, prolongamento da escolaridade até aos 14 anos, presença de mulheres em cargos governamentais e outras conquistas sociais e econômicas importantes para os trabalhadores e para a classe média francesa.
Jogado na lama
Jordan Bardella, líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional, que se acreditava que venceria as eleições, inclusive podendo ter maioria absoluta, admitiu a derrota e criticou a aliança da Nova Frente Popular, que teria “enganado os franceses”. “O país foi jogado nas mãos da esquerda”, afirmou.
A principal liderança da extrema direita francesa, Marine Le Pen, disse que vitória de seu partido foi apenas adiada.
“A maré está subindo. Não subiu o suficiente desta vez, mas continua a subir e, portanto, a nossa vitória está apenas adiada. Tenho demasiada experiência apenas para ficar desiludida com um resultado em que duplicamos o nosso número dos deputados”, afirmou.
Com BdF e agências